Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

podemos mexer o nosso indicador. Subconscientemente, não podemos abdicar
do que acabámos de reivindicar. Por isso, enfiamos a extremidade do polegar no
número cinco, e a polpa do dedo do meio no número sete, e afastamo-los
devagar, muito respeitosamente, já que se trata de uma estante muito bem
arrumada, e, a seguir, enfiamos num ápice o polegar e o dedo do meio mais para
dentro, para agarrar, como se tivéssemos uma pinça, a nesga de lombada que
acabámos de deixar à mostra, e puxamos o dossiê para fora da estante, sem
nunca tirar o indicador do mesmo sítio, ou seja, da lombada, prestes a equilibrar
o peso quando o dossiê desce na nossa direção.
— Bom trabalho — repetiu Reacher.
— E há que inverter a numeração para os canhotos, claro.
— Mas imagino que ele não fosse canhoto.
— Temos uma ótima impressão digital. Na lombada do dossiê do lado. A
almofada do dedo do meio da mão direita. A tocar suavemente no vinil.
— E aparece no vosso sistema?
— Uma correspondência perfeita.
— Isso é bom.
— Com a impressão que tirámos do carro desportivo da rapariga morta. Do
cromado. O suspeito desconhecido. É o mesmo tipo, Reacher. As impressões são
idênticas. O mesmo dedo, o mesmo ângulo, a mesma pressão cautelosa. É
extraordinário.
Reacher ficou calado.
— Primeiro uma mulher e depois um homem foram selvaticamente
assassinados — disse Griezman. — E você sabe por quem.
— Ajude-me a encontrar o Wiley e eu digo-lhe.
— E também me estaria a ajudar a mim mesmo?
— O melhor é perguntarmos-lhe isso quando o encontrarmos.
— Mas você podia dizer-me já.
— Dizer a quem? Ao simples detetive ou ao burocrata obediente que vai
logo comunicar tudo aos serviços secretos em Berlim, daqui a uns dez minutos?
Sendo que, a seguir, eu iria para a cadeia, passados outros dez minutos.

Free download pdf