na rua e o trânsito lento.
Griezman disse:
— E agora vamos voltar para o carro.
Percorreram mais dois quarteirões no meio do trânsito e, a seguir, viraram e
estacionaram numa rua sossegada. Ficaram sentados ao lado um do outro, na
parte da frente do carro, a olhar para a frente através do para-brisas. Griezman
parecia preferir assim. Sozinhos, mas não propriamente cara a cara.
— Já lhe disse que havia um espaço numa estante com dossiês muito bem
arrumada — afirmou.
— Descobriram o que faltava?
— Não, descobrimos outra coisa. Os dossiês eram feitos de cartão rijo
plastificado com vinil. Todos de cores diferentes. De quatro argolas. Ficam todos
enfileirados como se fossem livros. Já conhece este produto?
— Os nossos têm três argolas.
— Imagine que estavam dez objetos desses muito bem arrumados e
enfileirados numa estante alta. Numerados de um a dez. E imagine que eu lhe
pedia para tirar de lá o número seis. Como faria isso?
— Sinto-me tentado a responder que não é preciso tirar nenhum curso
superior. Só que, provavelmente, até é. Já vi as vossas instalações.
— Fizeram uma experiência. Fizeram uma simulação da cena e escolheram
aleatoriamente trinta e quatro indivíduos. Basicamente, quem quer que lhes
passasse à frente do gabinete. E toda a gente, sem exceção, tirou o dossiê
exatamente da mesma maneira. Cem por cento.
— Como?
— Esticamo-nos todos e deslizamos com a polpa do dedo indicador até à
lombada do dossiê que queremos, no nosso caso, o número seis, como se o
tivéssemos localizado e agora estivéssemos a reivindicá-lo, muito discretamente.
É nosso. A questão da propriedade fica resolvida, psicologicamente. Mas está
completamente colado aos outros. Não há nada para agarrarmos. Mas não