Escola da Noite

(Carla ScalaEjcveS) #1

Os parques foram uma desilusão, numa perspetiva hortícola. Eram quase
exclusivamente pavimentados, com vasos e flores da cor de batons brilhantes.
Mas possuíam bancos, dois cada, e uma certa sensação de isolamento. Um tipo
poder-se-ia ter sentado num banco e o outro no outro, e o primeiro poderia ter
falado e a seguir ter-se levantado para se ir embora, sem que ninguém se
apercebesse de nada. Apenas uma pessoa num banco. E depois outra. Uma chega
e a outra vai-se embora.
Os parques eram uma possibilidade.
Na área de maior trânsito, a diferença não era como da noite para o dia, mas
havia um bocadinho mais de bulício e barulho. Os espaços comerciais
prolongavam-se da artéria principal para as ruas secundárias, uns quantos
prédios mais para dentro. Um era um bar, com quatro homens à porta, a beber
cerveja. Dez da manhã. Os quatro com cabeças rapadas. Uma coisa toda
grosseira e cheia de crostas, como se tivessem sido eles a fazer aquilo com uma
faca e estivessem orgulhosos. Eram novos, talvez com uns dezoito ou vinte anos,
mas grandes. Como quatro pedaços de carne. Não eram do bairro, pensou
Reacher. O que levantava questões territoriais. Estariam a reivindicar alguma
coisa?
Neagley disse:
— Vamos beber um café.
— Aqui?
— Aqueles rapazes têm qualquer coisa para nos dizer.
— Como sabes?
— É só um pressentimento. Estão a olhar para nós.
Reacher virou-se e eles fitaram-no. Um olhar tribal, com uma pontinha de
desafio e outra de medo. E também animal, com as pupilas dilatadas numa
resposta de luta ou foge. Como se o momento da verdade aí viesse.
— Qual é o problema deles? — perguntou Reacher.
— Vamos lá descobrir — respondeu Neagley.
E Reacher avançou, direito à porta.
Os quatro rapazes cerraram fileiras.

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