CausosdoCabete | 112
observar atentamente cada moita de capim tentando encontrar uma
cobra em pleno ato de hipnose, o que só consegui ver muitos anos
depois.
Com essa mania de procurar cobras e estudar seus hábitos, vi e
ouvi muita coisa e muito me assombrei. Sucuris, por exemplo, to-
dos sabem que quando comem animal grande ficam meses quie-
tas, digerindo as presas com o veneno que lhes injetam ao engolir.
Uma sucuri, com uma capivara de uns setenta quilogramas na bar-
riga, fica parecendo um grosso toco de árvore.
E foi assim que o Roberto (da Evandra) a viu e se sentou nela
para pescar lambari na beirada do rio Sapucaí, ali bem perto do
Rancho Azul. Quando, após uma meia hora, a cobra ficou inco-
modada e levantou a cabeça para ver o que acontecia o susto foi
grande, a tralha de pesca acho que ainda está lá na beira do rio até
hoje!
O Renato (do Zé Alves) saía pra caçar com sua socadeira, uma
pequena espingarda de carregar pela boca, creio que em calibre 36
ou, no máximo, 32. Certa vez, saí pra caçar com ele e logo de saída
pegamos uma chuva danada. Nos molhamos e molhamos as es-
pingardas. Eu levava uma quarentinha com cartuchos de metal
bem selados e não tive problema, mas o Renato tinha que esvaziar
a carga da pica-pau, já que a pólvora havia se molhado. E a vareta
de socar e de limpar o cano? Havia caído pelo caminho e se perdi-
do. Só vou contar isto porque eu mesmo vi, com estes olhos que a
terra há de comer (espero que não tão cedo), caso contrário eu
mesmo não acreditaria.
O Renato procurou até encontrar uma finíssima cobra-cipó, fina
e comprida. Pegou a cobra próximo da cabeça e pela ponta do
rabo e esticou-a, dando um pequeno tranco. Com o tranco acho
que travou todos os ossinhos da coluna da cobra e ela ficou duri-
nha como um graveto... O Renato socava a cabeça da cobra den-
tro do cano e, no escuro, quando ela batia no fundo, mordia. Ele
puxava e ela saía com um tanto de material na boca. Repetidamen-
te ele retirou a bucha de fechamento da carga, os chumbos saíram
fácil virando o cano de ponta-cabeça. Novamente lá foi a cobra
para retirar a bucha que prende a pólvora e, depois de montar