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O empregado ficou mudo e o resto do dia trabalhou em velocidade
fenomenal. No outro dia pela manhã o tio Tita não encontrou nem os
rastros do peão. Sumiu! O Tita passou muito tempo carpindo sozinho
e o serviço rendeu muito pouco. Volta e meia se lembrava do episódio
e ria até chorar, um riso que ecoava nos vales da serra e lhe deram a
fama de ser mal assombrada.
Tenho ótimas lembranças dele. Quando íamos pescar no rio Sapucaí
antes passávamos pela sua horta, já morando em Altinópolis, colhía-
mos uma cesta cheia de minúsculos pepinos que, no barranco do rio,
degustávamos com sal e umas talagadas da verdinha “Tomba Perna”,
de um excelente alambique de Itamojí, em Minas Gerais. Nesta horta
os pés de couve bem tratados com esterco selecionado e plantados ao
lado de um rego d’água cresceram tanto que o tio Tita vivia perturban-
do o Zé Amélio da CPFL para emprestar a escada de subir em poste
para colher as folhas de couve.
Desde os sete anos, e creio que até uns 70 anos, ele fumou muitos
alqueires de tabaco e muitas carroças de palha e milho. Estava sempre
com um cigarro na boca, um atrás da orelha e outro sendo cuidadosa-
mente confeccionado. Um dia cheguei na casa dele e encontrei-o na
varanda tentando fazer a barba. Fazia um enorme malabarismo para se
barbear sem se queimar pois o paieiro não lhe saía da boca. Não agüen-
tei a cena e sugeri: – Tio, não é mais fácil tirar o cigarro da boca?
Só aí ele percebeu o que estava fazendo e retirou o cigarro para ter-
minar a barba. Dizia minha tia Avelina que, para tomar banho, punha o
cigarro na beirada da janela, lavava a cabeça, voltava a colocar o cigarro
na boca e tomava o restante do banho fumando, com a cabeça para
fora do chuveiro. Também deixava um cigarro ao lado da cama. Acor-
dava de madrugada, fumava na cama mesmo e voltava a dormir.
Em uma crise muito dolorida de apendicite foi internado no HC.
Não havia leitos e ficou sofrendo no corredor até que houvesse uma
vaga para operá-lo. Nunca mais fumou um único cigarro. Alguns di-
zem que foi promessa, já ele dizia que ao sair da anestesia não sentiu
mais vontade de fumar.
Falando em promessas... Ficou famosa uma promessa que fez a um
amigo dono de uma oficina: durante um ano inteiro passar por lá todos
os dias e contar uma piada inédita. Promessa que cumpriu fielmente!
No final de 2004 já estava debilitado, consumido por câncer, mas
mantinha seu espírito bem humorado. Fui visitá-lo, creio que em de-
zembro, e seus olhos estavam vívidos apesar de estar prostrado no sofá