Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
A esperteza dos bichos | 39

A esperteza dos bichos


Lá na minha terra, em Altinópolis, as coisas não são como nos
outros lugares. Pra começar, o vento de lá é danado de persistente.
Venta quase o tempo todo e no nosso sítio, todas as galinhas têm o
rabo torto pro mesmo lado. O lado que o vento vai. E o pior do
vento é que fica zunindo na oreia, parecendo um bando de abeia.
Lembro que no nosso sítio tinha também um burro muito es-
perto que atendia pelo nome de Castelo. Era um animal perfeito,
mas ninguém se metia a besta de montá-lo pois o trote do danado
tirava o rim do lugar e o sujeito ficava aleijado uns dois meses. Na
carroça ele era imbatível, parecendo até que ela fazia parte de seu
corpo. Nunca bateu com ela num mourão de cerca ou num esteio
de porteira. Podia ser até em marcha à ré que o danado manobrava
com perfeição. Pra pulverizar café então, era uma máquina perfeita.
Saía de uma rua e entrava na outra sem esbarrar num pé e sem
ninguém precisar falar nada.
Os dois únicos problemas do Castelo eram os sustos que levava
com qualquer papel ou vulto que aparecesse no seu caminho. Ele
empacava e dava um trabalhão para tirá-lo de lá. O outro proble-
ma era a preguiça do Castelo. Quando meu irmão ia pegá-lo no
pasto era outra complicação. Cada vez o danado se escondia em
algum lugar diferente, ora no meio de uma moita de capim ou
dentro de uma grota. Não havia quem achasse o burro.

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