Causos do Cabete

(Bruno Cabete) #1
CausosdoCabete | 74

Seu irmão já estava pronto sobre seus chinelos de dedo tão gas-
tos que pareciam dois pedaços de papel. Seguiram no escuro em
direção à pedreira que ficava à beira da estrada uns dois quilôme-
tros acima. Quando estavam quase chegando à pedreira Antônio
rompeu o silêncio:



  • Alisson, disse, ainda bem que hoje não temos almoço! Sem
    parar acho que até à tarde conseguiremos completar as vinte latas
    do Seu Deusdeti! Vai dar pra comprar rapadura e farinha com os
    R$ 2,40 que vão sobrar depois de pagar os 20% do tio que arru-
    mou as madeiras para amolecermos as pedras. Os irmãos vão ficar
    feliz hoje na janta!

  • Tá bão, falou o Alisson, vamos começar queimando aquela pedrona
    ali da beirada assim teremos trabalho até o meio da tarde enquanto
    queimamos outras duas.
    Como era o mais experiente com toneladas e toneladas de pe-
    dras queimadas e quebradas na marreta, Alisson foi orientando
    seu irmão no arranjo dos galhos ao redor da pedrona. Puseram
    fogo e sentaram-se ao longe observando o fogo trepidar no escu-
    ro da madrugada, logo amanheceu e vez ou outra um se levantava
    para ajeitar os galhos sobre a pedra.
    Lá pelas nove horas a pedra estava avermelhada. Alisson foi bus-
    car uma lata d’água na cacimba, seguido pelo seu irmão. Chega-
    ram ao lado da pedra e simultaneamente arremessaram suas águas
    sobre ela. A pedra chiou, rangeu, estralou e sob uma imensa nu-
    vem de vapor rendeu-se e se quebrou em várias. Cada pedaço en-
    fraquecido por dezenas de trincas. Com uma velha enxada os ir-
    mãos arrastaram as brasas que sobraram. Alisson pegou um peda-
    ço ainda quente arremessando-o ao ar para não queimar as mãos.
    Sentou-se sobre uma pedra e com uma pequena marreta passou a
    esfacelar aquele pedaço em pequenas pedrinhas que pareciam ter
    sido medidas uma a uma tamanha a uniformidade de tamanho.
    Antônio foi colocar outra pedra sob a ação desintegradora do
    fogo e logo se juntou ao irmão no quebra-quebra. Por volta das
    quatro da tarde, após marretarem o dia todo sob o calor do sol
    escaldante e sobre o calor das pedras aquecidas tinham a seus la-
    dos belos montes de pedra britada. Avaliaram bem os montes e

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