CausosdoCabete | 96Me dá minha pinga!
Neste dia Deusdety acordou antes que o garnisé soltasse seu
grito estridente. Sua esposa já havia feito o café ralo da manhã e
estava fazendo as trouxas para a mudança. Uma com as roupas,
outra com os “trem” de cozinha. Deusdety sentou-se na banqueta
ao lado da mesa e serviu-se de uma farta caneca de café.
A esposa ia passando pela cozinha, olhou para as pernas do ma-
rido, tirou um dos chinelos de dedo do pé e deu na mão do
Deusdety:
- Deti, tem um aí na sua perna, mata ele porque não quero levar
nenhum destes pra casa nova!!
O marido deu uma chinelada firme e forte na perna e ouviu-se
um barulho como se estivesse quebrando casca de ovo seca. Era
mais um ácaro! Os ácaros desta casa eram tão antigos e bem ali-
mentados que se podia matar a chineladas.
Com três filhos, o mais velho, com sete anos, tinha bronquite
desde novinho e por conta disto viviam mudando de casa. Na
maioria das vezes os empregos eram arrumados sem ver o patrão
ou a nova moradia, algum conhecido levava os recados de lá pra cá
e de cá pra lá e tudo se ajeitava. Em três anos já haviam morado
em cinco casas diferentes e o Deusdety sempre a xingar: – Que
desgraça de vida! Que desgraça de emprego! Que desgraça de casa!
Que desgraça de ...
Logo que se mudaram para esta casa ele sentiu que havia chega-
do ao fundo do poço e precisava tomar uma atitude mais séria. Os
ácaros eram do tamanho de pimentas do reino e o menino já não
tinha crises de bronquite, entrou em uma crise e nunca mais saiu
dela. A casa antiga, de assoalho de madeira, tinha um pequeno
porão onde se entrava de cócoras. O porão havia se transformado
em um depósito de coisas imprestáveis e virou, também, a mater-