® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

revista Nature Plants naquele ano, provou que a semente é capaz de resistir a
temperaturas de até 1,9°C acima do limite suportado pela robusta e de até 6,8°C acima
do limite tolerado pela arábica. Além disso, a Coffea stenophylla passou com louvor na
prova de paladar feita às cegas por degustadores profissionais.


A pesquisa com essa semente esquecida de café era a boa notícia que Charles pretendia
transmitir a Ondimba, pois o Gabão tem terras potencialmente aptas para o seu plantio.
Além disso, o príncipe, que tem se dedicado com afinco às questões ambientais, queria
mostrar ao presidente como as investigações científicas realizadas nos Kew Gardens
estão ajudando no plano estratégico da Sustainable Markets Initiative (SMI, Iniciativa
de Mercados Sustentáveis), a menina dos olhos de Charles. A organização lançada por
ele em 2020 tem como meta incentivar o setor privado a investir na economia
sustentável, como diz seu nome.


Não é o único projeto cultivado pelo príncipe com a SMI. Ele também ambiciona criar
um conjunto de direitos da fauna e da flora para ser adotado mundialmente. A
iniciativa se chama Terra Carta, nome que faz referência à Magna Carta, o primeiro
ensaio de Constituição moderna da história por ter fixado em 1215 os direitos e deveres
dos cidadãos ingleses, submetendo até mesmo o poder real ao domínio da lei comum.
A Terra Carta foi uma ideia que Charles apresentou na One Planet Summit, conferência
dedicada à preservação da biodiversidade, realizada em Paris em janeiro do ano
passado. Cerca de trinta chefes de Estado estavam presentes. O do Brasil não foi
convidado, apesar de grande parte do território do país abrigar a floresta mais
biodiversa do planeta, a Amazônia.


Após a visita à Coffea stenophylla, a comitiva seguiu para o Grass Garden, área dedicada
principalmente às gramíneas, com 550 espécies, todas de uso comercial. Ao avistar
alguns tipos de grama de maior porte, o príncipe perguntou a Antonelli sobre a
serventia delas. “Sir Charles, essas espécies geram menos gás metano nas vacas que as
comem. E o metano que elas emitem colabora com as mudanças climáticas”, explicou o
biólogo paulista. “Mas elas gostam de comer isso?”, perguntou o príncipe. Ao que
Antonelli respondeu: “Se não tiverem outra opção, sim.” E os dois soltaram uma
risada, quebrando a formalidade do encontro e atraindo os flashes dos fotógrafos que
acompanhavam a visita.


O passeio terminou no Laboratório Jodrell, onde cientistas estudam o DNA de plantas
e realizam análises de produtos de grandes empresas como a sueca Ikea e a norte-
americana Procter & Gamble.

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