® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Mesmo assim, os zoólogos o classificavam como um rato-gigante-do-sul. A espécie
atende pelo nome científico de Cricetomys ansorgei e é bem mais parruda que os
hamsters, camundongos e outros bigodudos.


Onívoro, Magawa exibia bochechas elásticas o suficiente para transportar toda a
comida que desejasse armazenar numa toca. O roedor, porém, nunca precisou lutar
pelo próprio sustento nem construir abrigos. Ele sempre viveu em cativeiro, sob os
cuidados de uma organização não governamental belga, a Apopo. Foi gerado na
cidade tanzaniana de Morogoro, onde fica a Universidade Sokoine de Agricultura. A
instituição – que o acolheu desde o nascimento, em 25 de novembro de 2013 – decidiu
transferi-lo para o Sudeste Asiático três anos depois. No Camboja, Magawa finalmente
iniciou o trabalho que o consagraria: a detecção de minas terrestres.


Em zonas de conflito, tais artefatos bélicos são instalados junto à vegetação rasteira e
debaixo do solo com o intuito de evitar que adversários acessem pontos estratégicos,
como arsenais, rodovias, postos militares e reservatórios de água. Basta pisar nas
armadilhas para detoná-las. Uma vez acionadas, lançam estilhaços de metal capazes de
matar ou ferir gravemente tanto os humanos quanto os bichos. Por continuarem
ocultos mesmo depois das guerras e insurreições, os dispositivos que ainda não
estouraram acabam interditando locais onde poderiam existir moradias e florescer
atividades econômicas. Daí a necessidade de localizar e remover os armamentos – uma
operação arriscada e onerosa.


Em 2020, pelo menos 7 073 pessoas de 54 países morreram ou se machucaram


devido às minas terrestres. O contingente é 20% maior que o de 2019. Cada artefato
custa, no máximo, 30 dólares. O intrincado processo de desativá-lo, contudo, sai bem
mais caro: de 300 a 1 mil dólares. Rússia, China e Estados Unidos figuram hoje entre os
principais fabricantes desse tipo de armadilha.


Se treinados adequadamente, ratos como Magawa ou de outra espécie parecida,
a Cricetomys gambianus, conseguem sentir o cheiro do TNT, explosivo que compõe a
maioria das minas terrestres. Assim que reconhecem o odor maligno, os roedores
arranham o chão justamente na altura em que os dispositivos se escondem. Um único
animal leva trinta minutos para rastrear um terreno com as dimensões de uma quadra

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