® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

década de 2000, ela se mudou para Londrina com os meus irmãos mais novos. Eu
cheguei a ficar um tempo com eles, mas, em 2005, aos 26 anos, voltei para o estado de
São Paulo. Em Itapevi, o grupo político do meu pai havia vencido a eleição municipal e
fui contratado como funcionário da prefeitura. Cheguei a me candidatar a vereador,
mas não fui eleito. Trabalhei na prefeitura até 2009, quando a aliança política foi
rompida e meu pai pediu que a prefeitura terminasse meu contrato.


Até que, em 2012, paramos de nos falar. A nossa relação já era complicada, mas chegou
a um ponto crítico quando ele começou a se juntar aos inimigos políticos que ajudaram
a destruir a nossa família. Não suportei. Eles haviam processado meu pai catorze vezes
e transformado a nossa vida num inferno. Meu pai dizia que estava tudo bem, que na
política as coisas funcionavam assim mesmo, uma hora se rompia e na outra se reatava.
Mas eu não aceitava. Dois anos depois, em 2014, nos falamos brevemente por telefone e
ele me pareceu animadíssimo. Dizia que estava viajando o Brasil e fazendo grandes
negócios. Achei que fosse exagero dele, mas não falei nada. Em 2019, ele me procurou.
Disse que não estava bem de saúde, que havia passado muito mal no escritório e que
quase morrera. Tinha diabetes, era cardíaco e não se cuidava. Foi quando nos
reaproximamos.


Passei a levá-lo a consultas médicas e exames. Durante a pandemia, ele ficava isolado
em casa e eu levava os mantimentos de que ele precisava. Nesses contatos, ele começou
a me contar um pouco mais sobre o trabalho que fazia. Eu seguia sem dar muito
crédito porque eram coisas fora da realidade, como compra e venda de empresas de
capital milionário. Eu achava que ele estava exagerando. Afinal de contas, a vida dele
não era luxuosa nem abastada, como poderia ser a vida de um empresário de grande
porte. Ele levava uma vida normal e morava de aluguel.


Em 2020, mesmo tendo que se resguardar por causa da pandemia, meu pai resolveu se
candidatar a vereador em Itapevi. Na época, fiquei intrigado – como sobraria tempo
para a política se ele estava tão ocupado com tantos negócios? –, mas guardei as
dúvidas para mim. Ele andava bastante envolvido na campanha quando, no dia 9 de
setembro, sentiu-se mal. Me ligou às nove da manhã. Levei-o ao hospital. O médico
disse que meu pai havia infartado. Foi internado às pressas para colocar um marca-
passo e ficou na UTI inalando oxigênio enquanto o hospital pedia aprovação do plano
de saúde para a cirurgia. Fiquei ao lado dele. Nessa noite na UTI, do dia 9 para o dia 10
de setembro, ele enfim me contou toda a história. Não sei bem qual era a sua intenção:
me alertar que eu tinha direitos? Hoje, penso que sim.


No leito hospitalar, meu pai me disse que fazia parte de um grupo cujo cabeça era
Marcos Tolentino, o senhor que o país conheceu durante a CPI da Pandemia como um
dos suspeitos na operação bilionária que pretendia comprar a vacina indiana Covaxin.

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