® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

Tolentino não me procurou. No dia 25 de janeiro, fiz contato com ele pelo WhatsApp.
“Fernando, me desculpe, correria total!”, ele escreveu, enviando sua localização do
momento. Mostrava que ainda estava na Bahia, em Arraial d’Ajuda. Reafirmou que, ao
voltar para São Paulo, me procuraria. Enquanto isso não acontecia, ele pediu que um
de seus funcionários, Renato Nunes, me desse a assistência necessária. Nesse período,
Nunes, de fato, começou a me assessorar. Mas tudo era muito lento. Eles sempre
pediam que eu não fizesse nada, que deixasse tudo na mão deles e me orientavam,
acima de tudo, a não procurar o Ministério Público novamente, algo que eu cogitava
fazer. Queria apenas apresentar ao MP os documentos comprovando o patrimônio do
meu pai e reforçar que não tinha condições de pagar o inventário. Eu acreditava que os
promotores pudessem até mesmo me ajudar a resolver o imbróglio.


Ocorre que, em abril de 2021, a CPI da Pandemia iniciou seus trabalhos no Senado. Daí
em diante, tudo mudou.


As investigações da CPI sobre a atuação do governo durante a pandemia não


demoraram a chegar ao FIB Bank. A empresa tinha oferecido a garantia para a compra
da vacina indiana Covaxin, pelo governo de Jair Bolsonaro – um negócio bilionário
que, uma vez reveladas as irregularidades, acabou cancelado. Eu não sabia de nada.
Até então, achava que o FIB Bank tivesse uma atividade honesta e regular, mas, a cada
passo que a CPI avançava, a confusão ficava maior – e o nome do meu pai começou a
aparecer na imprensa. Diante dessa avalanche de informação, percebi, por exemplo,
que sua morte jamais fora informada nos documentos oficiais das empresas das quais
ele era dono. O FIB Bank continuava atuando normalmente, sem que a Junta Comercial
tivesse sido avisada sobre qualquer mudança societária. O mesmo ocorria com a MB
Guassu, firma na qual meu pai tinha um sócio, um senhor chamado Sebastião Lima,
também falecido. As omissões, operadas por Tolentino e seus empregados, configuram
crime de falsidade ideológica.


Não cheguei a conhecer Sebastião Lima. Soube que era um homem simples que morava
na periferia de São Paulo. Quando morreu, em 2017, seus filhos não herdaram nada da
MB Guassu, ainda que Lima detivesse 99% do capital social da empresa. Meu pai era o
dono do 1% restante. Como nenhum herdeiro de Lima colocou a MB Guassu no
inventário, meu pai tornou-se então o único dono vivo da empresa. Ele assinava por ela
e fazia todas as movimentações. Quando meu pai morreu, o grupo do Tolentino

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