® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

de fornecer, se houvesse autorização para comercialização, tinha efetivamente
triplicado.”


Havia um fato ainda mais encorajador: a candidata baseada em modRNA da BioNTech
ativava anticorpos neutralizantes com níveis de sucesso semelhantes em todos os oito
voluntários cujas amostras de sangue tinham sido analisadas. Era alta a probabilidade
de as tropas mobilizadas pelo corpo em resposta à vacina desmantelarem o patógeno
que já ceifara quase meio milhão de vidas, impedindo-o de se acoplar às células do
pulmão e causar uma doença grave. “Foi maravilhoso ver aquilo”, conta Uğur. Por um
instante, ele se permitiu apreciar a beleza da ciência que aperfeiçoara durante décadas
ao lado de Özlem e das suas equipes.


Sete minutos depois, respondeu assim ao e-mail: “Caro Alexander, cara equipe. Isso é
incrível. Temos uma vacina!”


Capítulo do livro A Vacina, a ser publicado em março pela editora Intrínseca.


[1] A BioNTech havia desenvolvido quatro versões de mRNA sintético, removendo,


substituindo ou reconfigurando blocos de construção individuais para aumentar os
poderes naturais da molécula. Essas versões eram o uRNA (o mRNA contendo uridina,
uma das moléculas que formam a estrutura do RNA), o modRNA (ou mRNA
modificado com nucleosídeo), o aaRNA (ou mRNA de autoamplificação) e o taRNA
(ou mRNA de transamplificação). Como os nomes sugerem, estes dois últimos vêm
com sua própria “máquina copiadora”, ou capacidade de replicação, aumentando e
prolongando drasticamente a produção de um antígeno de vacina, como a proteína
Spike do coronavírus, nas linhas de produção celular. (N. R.)


[2] Glóbulos microscópios de gorduras, conhecidos como nanopartículas lipídicas, têm


sido usados desde a década de 1990 para inserir DNA em culturas de células.
Experimentos revelaram que os lipídios também poderiam encapsular o mRNA e
proteger esta molécula até ela atingir as células que funcionam como os principais
comunicadores do sistema imunológico. Os medicamentos baseados em mRNA
precisavam de uma blindagem para viajar pelo corpo até encontrar uma célula, e a
ideia era que, com a ajuda de uma química meticulosa, os lipídios conseguissem fazer
esse trabalho sem provocar um ataque imunológico contra si mesmos. (N.R.)


Joe Miller


É jornalista britânico

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