® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

No dia 4 de novembro de 2021, dezessete anos depois do culto na Igreja


Universal, Wander Oliveira estava na sua empresa, a WorkShow, instalada em um
edifício de 22 andares. Sua sala, na cobertura do prédio, tem vista panorâmica de
Goiânia, piso de mármore e, no hall de entrada, sobre uma bancada, há uma imagem
de Nossa Senhora de 1 metro de altura. Naquele dia, Oliveira tinha uma reunião com a
cantora e compositora Marília Mendonça. A certa altura, a artista abriu a porta da sala
principal e, do seu jeito despojado de sempre, entrou fazendo um anúncio: “Wandão,
tá decidido: pode procurar um jato para nós! Não quero mais ficar viajando aí em avião
bimotor.”


Marília, a voz mais ouvida do Brasil, estava cansada de cumprir sua lotadíssima
agenda de shows voando em aviões pequenos. Os dois combinaram então procurar um
modelo Phenom 300, fabricado pela Embraer, ou um Citation cj4, da Cessna, ambos
com autonomia de voo de até 3,6 mil km. Dois meses antes, Marília se recusara a
embarcar no bimotor King Air, de propriedade do próprio Oliveira, para atender a um
compromisso profissional no Rio de Janeiro. Preferiu alugar o jato de uma empresa de
táxi-aéreo. Agora, tomara a decisão de evitar os bimotores. Achava-os desconfortáveis
e queria ter a segurança de viajar num avião próprio, com boa manutenção. No dia
seguinte, teria que embarcar num bimotor, um King Air c90. Faria um show em
Caratinga, no interior de Minas Gerais, onde a pista de pouso tinha apenas 1,08 mil
metros e só podia receber bimotores. O aeroporto mais próximo com capacidade para
jatos ficava em Governador Valadares, a mais de 100 km do local do show. Seria muito
demorado.


Na tarde de 6 de novembro, dois dias depois da decisão de comprar um jato, um carro
do Corpo de Bombeiros deixou o ginásio Goiânia Arena, na capital de Goiás,
carregando o corpo de Marília Mendonça, vítima da queda do bimotor que a levava
para Caratinga. Depois do velório que reuniu uma multidão de mais de 100 mil
pessoas, o cortejo fúnebre da cantora foi acompanhado apenas pelos mais íntimos.
Numa fotografia amplamente divulgada pela imprensa e pelas redes sociais, ao lado do
caixão aparecem duas duplas sertanejas – Maiara e Maraisa, e Henrique e Juliano – e,
entre elas, um cidadão que ninguém conhecia. As legendas dessa foto identificavam
apenas os artistas. No portal UOL, por exemplo, o cidadão do centro foi identificado
como “um amigo”. Era Wander Oliveira.

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