® Piauí ed. 185 [Riva] (2022-02)

(EriveltonMoraes) #1

lembra Oliveira. Mas, ao ouvir uma garota pequena com um vozeirão, ele logo pensou:
tem coisa aí. A menina era Marília Mendonça.


Em um primeiro momento, Oliveira escalou a menina para trabalhar apenas como
autora de músicas para os artistas da WorkShow. Uma semana depois, Ruth Moreira,
mãe da adolescente, apareceu na empresa para assinar o contrato de trabalho da filha
menor de idade. O salário era de 3 mil reais. Um dinheiro graúdo para uma família
pobre. Com esse contrato, Marília passou a sustentar sua família – ela, a mãe e um
irmão mais novo.


Marília tinha perdido seu pai biológico havia pouco, vítima de um câncer. Seus pais se
separaram quando ela ainda estava na infância. Sua mãe se casou de novo e teve João
Gustavo, mas o relacionamento com o marido não durou e, mais uma vez, deu-se a
ausência paterna. Ruth Moreira sustentou os filhos com meios modestíssimos. Chegou
a ter um pequeno bar, e morava nos fundos. A necessidade de trabalhar tendo filhos
pequenos levou os vizinhos a denunciá-la no Conselho Tutelar por abandono de
incapazes. Aos poucos, Oliveira foi assumindo o papel da figura paterna para Marília.
“Muitas vezes a mãe dela me chamava aqui no escritório pedindo para eu dar bronca
porque ela estava bebendo muito, essas coisas de adolescente”, lembra Oliveira.


Aos 13 anos, Marília compôs Minha Herança, que seria, anos mais tarde, feitas algumas
adaptações, a primeira canção a ser gravada profissionalmente por João Neto e
Frederico. Na época, a música estourou. Marília também fez Cuida Bem Dela para a
dupla Henrique e Juliano. Outro estouro. Mas foi só depois de quase seis anos na
WorkShow, período em que compôs dezenas de hits para os artistas da empresa, que
Marília Mendonça foi lançada como cantora. “Esperei ela fazer 18 anos para protegê-la
dela mesma. Ela não tinha estrutura emocional para lidar com o mercado, que poderia
sugar essa criatividade”, diz Oliveira.


A estreia de Marília como intérprete aconteceu com o lançamento de um EP, em que
constavam duas músicas que viraram grandes hits: Alô Porteiro (Pegue suas coisas que
estão aqui/Nesse apartamento você não entra mais/Olha o que você me fez, você foi me
trair/Agora arrependido quer voltar atrás) e Sentimento Louco (Só queria mais um pouco desse
sentimento louco/De acordar de madrugada pra fazer de novo/E se isso for pecado, quem vai nos
julgar?). As letras que entoavam as amarguras de amor lhe renderiam a alcunha de
Rainha da Sofrência. Infiel, música que tornou seu rosto famoso, seria lançada em 2016
quando gravou um DVD ao vivo. Quem esteve no show constatou que o público ali já
sabia cantar as músicas, insistentemente tocadas na internet e nas rádios.

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