o
armazenado em tambores de 200 li-
tros e depois incinerado.
O primeiro complexo de isolamento
biológico do mundo foi um “hospital
da peste”, ou lazaretto, construído numa
ilha de Veneza em 1425 para proteger
a cidade da Peste Negra. De lá para cá,
os locais e sistemas de confinamen-
to falharam várias vezes. Na década
de 1780, por exemplo, um guarda do
lazaretto de Split, na Croácia, surrupiou
de lá um belo cachecol branco, com o
qual presenteou a esposa. Ao fazer isso,
espalhou pulgas contaminadas com a
peste bubônica – que matou 10% da
população da cidade. Na década de 1830,
o capitão de um navio em Boston apro-
veitou que a baía estava congelada e foi
a pé da Quarantine Island, onde havia
um hospital de infectados por cólera, até
o continente, a 8 km dali – o que causou
uma onda de pânico na cidade. Em ou-
tros casos, os patógenos simplesmente
pegaram carona em humanos sem que
ninguém notasse nada. Acredita-se que
a ferrugem do trigo, uma doença cau-
sada por fungos que mata até 40% das
lavouras, tenha chegado à Austrália na
barra da calça de um viajante.
O principal meio pelo qual se espera
que material contaminado escape do
NBAF é erro humano – o calcanhar de
Aquiles de lazarettos e laboratórios ao
longo da história. “A causa sempre são
as pessoas”, diz Trewyn. Obviamente, o
NBAF foi projetado para diminuir esse
risco. Nele, pessoas, animais e objetos só
podem se deslocar na mesma direção,
de fora para dentro do complexo. Tudo
(incluindo as carcaças) só pode sair lá
de dentro após passar por câmaras e
tanques de desinfecção ou autoclaves.
A exceção são as pessoas, que têm de
passar por dois chuveiros químicos e
um chuveiro comum. As precauções al-
cançam até a vida pessoal dos cientistas,
que foram proibidos de criar galinhas
(para reduzir riscos caso um deles leve
um patógeno para casa sem saber).
Mesmo com tudo isso, o National
Research Council [um órgão científico
do governo americano] reclamou, dizendo
que aquela estimativa de 0,1% de risco
de vazamento no NBAF foi “baseada
em cálculos excessivamente otimistas
e não comprovados das taxas de erro
humano”. (Ela também não leva em con-
ta a possibilidade de atos propositais.)
A ilha de Plum e outros laborató-
rios espalhados pelo mundo tiveram
vários episódios de quase vazamento.
Mas Trewyn acredita que vale a pena
correr o risco. As doenças vão chegar
aos EUA de qualquer maneira, diz. Ele
cita dois casos bem diferentes, causados
por surtos da mesma doença no Reino
Unido. Em 2007, o vírus da febre afto-
sa escapou do Pirbright Institute, um
complexo de laboratórios em Surrey, no
sul da Inglaterra, com a ajuda de fortes
chuvas e canos sem manutenção. Ele foi
rapidamente detectado e contido. Horas
após o primeiro caso, o governo proibiu
a movimentação de gado pelo país; dois
meses mais tarde, o vírus estava contido,
tendo infectado apenas oito fazendas. O
sistema funcionou, diz Trewyn. Espe-
cialmente se comparado a um episódio
bem diferente, ocorrido seis anos antes.
Foi em Northumberland, no extremo
norte inglês, em 2001. Carne suína con-
taminada, que provavelmente havia sido
importada da Ásia de forma ilegal, foi
usada para alimentar porcos, detonando
uma epidemia nacional de febre aftosa.
Instalações modernas,
localIzação polêmIca
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