escondê-las, poupando às pessoas aquela visão tão desagradável e pouco
civilizada, ou então jogavam cobertores, mantas sobre os canhões, de modo a
passarem despercebidos ou pelo menos não chamarem a atenção; outros, enfim,
assumiam com os canhões uma postura de afetuosa zombaria, davam tapinhas
na carreta, na culatra, apontavam para eles com um meio sorriso: tudo para
demonstrar que não tencionavam servir-se deles para fins letais, mas só levá-los
para passear como grotescas engenhocas, grandes e raras.
Esse confuso sentimento chegara também à alma do coronel Clelio
Leontuomini, que instintivamente abaixara a cabeça à altura da cabeça do
cavalo. Este, por sua vez, começara a mexer as pernas vagarosamente, com a
cautela das bestas de carga. Mas bastou um momento de reflexão para que o
coronel e o cavalo retomassem sua cadência marcial. Dando-se rapidamente
conta da situação, Leontuomini lançou uma ordem seca:
— Passo de parada!
Os tambores rufaram, depois começaram a bater em cadência. O
regimento se recompusera depressa e agora ia em frente pisando o terreno com
agressiva segurança.
— Pronto — pensou o coronel olhando de soslaio para suas fileiras —, é um
autêntico regimento em marcha.
Na calçada alguns passantes se detiveram, perfilando-se como a parada, e
olharam com jeito de quem gostaria de se interessar e até quem sabe se deliciar
com tamanha demonstração de energia, mas sentem dentro de si algo que não
entendem bem, uma vaga sensação de alarme, e, de qualquer maneira, há
coisas sérias demais ocupando a nossa cabeça para que a gente comece a pensar
em espadas e canhões.
Ao se sentirem olhados, a tropa e os oficiais foram de novo tomados por
aquele leve, inexplicável constrangimento. Continuaram a marchar
empertigados em passo de parada, mas não conseguiam se livrar de uma dúvida
que havia em seus corações, que era a de estarem fazendo mal àqueles bravos
cidadãos. O infante Marangon Remigio, para não se distrair com a presença
deles, mantinha sempre os olhos baixos: quando se marcha em colunas, as únicas
preocupações são o alinhamento e o passo; quanto ao resto, o pelotão pensa pela
gente. Mas centenas e centenas de outros soldados faziam o mesmo que o
infante Marangon; aliás, pode-se dizer que todos eles, oficiais, alferes, coronel,
avançavam sem nunca tirar os olhos do chão, seguindo a coluna, confiantes.
Assim, viu-se o regimento, em passo de parada, fanfarra à frente, virar para um
lado da rua, sair do terreno asfaltado, passar por cima de um canteiro dos jardins
públicos e ir adiante decidido, pisoteando ranúnculos e lilases.
Os jardineiros estavam regando o gramado e o que veem? Um regimento
que avança de olhos fechados para cima deles, esmagando o capim com as solas
dos sapatos. Aqueles pobrezinhos não sabiam mais como segurar as mangueiras,
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1