Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Está procurando alguma coisa? — disse.
Enrico levou o cigarro aos lábios. Fiorenzo fumava o próprio bafo, uma
nuvenzinha densa no ar frio.
— Estava olhando — disse Enrico vagamente, fazendo um gesto circular.
Esperava que o outro se revelasse. Pensou: “Se encontrou o colar, sondará o
terreno para saber quanto vale”.
— Perdeu-a aqui? — disse Fiorenzo.
E Enrico, rápido:
— O quê?
O outro deu um tempo de pausa e depois:
— Aquela coisa que está procurando.
— Como o senhor sabe que estou procurando uma coisa? — disse Enrico,
brusco. Ficara um instante a refletir se convinha apostrofá-lo com o “você”
intimidatório, que a polícia emprega com as pessoas malvestidas, ou com o
“senhor” da urbanidade citadina formal e igualitária; resolvera que o “senhor”
transmitia melhor aquele tom entre o de pressão e o de negociações com o qual
queria marcar as relações entre eles.
O homem refletiu um pouco, soltou outro bafo, virou-se e resolveu ir
embora.
“Considera-se o mais forte — pensou Enrico —, será que realmente o
encontrou?”
É verdade que agora o desconhecido estava em posição de vantagem: cabia
a Enrico ir atrás dele. Chamou: — Ei! — e estendeu o maço de cigarros. O
homem se virou. — Fuma? — perguntou Enrico, com o maço estendido, mas
sem se mexer. O homem recuou uns passos, pegou um cigarro no maço e, no
esforço de puxá-lo com as unhas, resmungou alguma coisa que também podia
ser um “muito obrigado”. Enrico recolocou o maço no bolso, tirou o isqueiro,
testou-o, acendeu lentamente o cigarro do homem.
— Diga-me primeiro o que o senhor está procurando — disse — e depois eu
lhe responderei.
— Capim — disse o homem, e apontou um cestinho na beira da estrada.
— Para os coelhos?
Tinham subido de novo o barranco. O homem pegou o cestinho.
— Para nós comermos — disse, e se dirigiu para a estrada. Enrico subiu no
scooter, ligou o motor, lentamente, e se colocou ao lado dele.
— Quer dizer que o senhor dá a sua volta toda manhã por estes lados em
busca de capim, não é? — e queria chegar a dizer “Este aqui é um pouco o seu
reino, não é? São lugares onde não pode cair uma folha sem que você perceba!”,
mas Fiorenzo o preveniu:
— São lugares que pertencem a todo mundo — disse.

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