ASORIGENSDAEUROPA 19
Moscovo. A propaganda nazi usou mais tarde
este argumento como justificação intelectual
para o avanço da “raça superior” ariana sobre a
Europa de Leste a partir de 1939.
Foi em parte por essa razão que, décadas após
a Segunda Guerra Mundial, a teoria segundo a
qual as alterações culturais ancestrais poderiam
ser explicadas por migrações ganharam má re-
putação. Ainda hoje, alguns arqueólogos expri-
mem o seu desconforto quando os geneticistas
desenham setas arrojadas nos mapas da Europa.
“Este tipo de simplismo remonta a Gustaf Kos-
sinna”, afirma Volker Heyd, de origem alemã.
“Faz ressuscitar demónios antigos de homens
louros e olhos azuis vindos, sabe-se lá como, do
inferno para onde foram enviados depois da Se-
gunda Guerra Mundial.”
Na verdade, o DNA antigo que fornece infor-
mação directa sobre a biologia de seres huma-
nos ancestrais, tornou-se um argumento forte
contra a teoria de Gustaf Kossinna. Em primeiro
lugar porque, ao documentar a disseminação
dos yamnaya e dos seus descendentes e a sua
entrada profunda na Europa naquele momen-
to exacto, as provas do DNA defendem a teoria
favorecida pelos linguistas: os proto-indo-euro-
peus migraram para a Europa vindos da estepe
russa e não o contrário. Em segundo lugar, por-
que permite rejeitar a afirmação de Kossinna,
segundo a qual existe um tipo de raça pura na
Europa, capaz de ser identificada a partir dos
seus artefactos culturais.
Na actualidade, todos os europeus são uma
mistura. A receita genética de um europeu típi-
co pode incluir partes idênticas de yamnaya e de
agricultor anatólico, com uma gota mais peque-
na de caçador-recolector africano.
“Na minha opinião, os novos resultados do
DNA estão a minar o paradigma nacionalista
segundo o qual sempre aqui vivemos e não nos
misturámos com outros povos”, diz Kristian Kris-
tiansen. “Não existe tal coisa como um dinamar-
quês, um sueco ou um alemão.” Em vez disso,
“somos todos russos e somos todos africanos”. j