National Geographic - Portugal - Edição 221 (2019-08)

(Antfer) #1
56 NATIONAL GEOGRAPHIC

O ecoturismo na ilha
do Faial, especialmente
a observação de vida
marinha selvagem,
funciona como um
importante potencia-
dor do desenvolvi-
mento económico
regional. Esta é uma
actividade sustentável
que atrai cada vez mais
turistas oriundos
de todo o mundo.
As autoridades
regionais calculam
que o mergulho com
móbulas e tubarões
renda anualmente
cerca de oito milhões
de euros.

Nadandoelegantementeemespiral,dezenasde
criaturas majestosas aproximam-se curiosas. Ao
sabor de uma suave corrente que atravessa estas
águas cristalinas, fazem o meu coração palpitar
durante uma intensa troca de olhares. Seduzido
pelo momento, sinto um desejo incontrolável de
tocar num destes gigantes com quase o dobro do
meu tamanho. Apesar de saber que é errado es-
tabelecer contacto físico com animais selvagens,
não resisto. Com toda a cautela do mundo para
não quebrar o equilíbrio deste cenário mágico, es-
tendo a mão e... SPLASH!
O meu sonho de lembranças do Atlântico Norte,
agora distante, é interrompido por uma violenta
massa de água que invade a pequena embarcação
de pesca artesanal em que me encontro.
Neste lado do planeta, a cerca de treze mil qui-
lómetros de Portugal, navego por águas da maior
nação arquipelágica do mundo. Na companhia
da bióloga marinha da Universidade dos Açores e
da Universidade de Queensland, Betty Laglbauer,
Suari e Sanusi, dois pescadores locais com rostos
serenos que não espelham a noite rigorosa que
atravessamos, estou prestes a testemunhar a rea-
lidade implacável em que vivem as raias-diabo.
Voando majestosamente pelos oceanos há cer-
ca de 25 milhões de anos, as raias-diabo, também
conhecidas como móbulas, são das criaturas mais
belas, fascinantes e enigmáticas dos nossos ma-
res. Parentes próximos dos tubarões, estes peixes

Envolvido por um azul


intenso, o meu sorriso


abre-se enquanto sou


abraçado por um bailado


de seres alados.


TEXTO E FOTOGRAFIAS DE JOÃO RODRIGUES
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