cinema
A dinâmica
do esquecimento
Assim como o resgate de memória de infância
aprofunda o desenvolvimento psíquico
pessoal, a apropriação da história de um povo
abre caminho para seu amadurecimento
A
memória é traiçoeira: desconstrói o que foi vivido, em especial na
infância – tal qual se faz com um jogo de montar – e reconstrói a
experiência a partir de novos arranjos. Porém, nesse processo, mui-
tas peças se perdem nos meandros da mente. Para preencher as lacunas
que provocam angústia, buscamos sentidos, recorremos a fantasias, lem-
branças encobridoras. Em geral, as construções psíquicas que nos recon-
fortam oferecem um sentido de continuidade. Mas, em alguns casos, o que
prevalece é uma espécie de caldo psíquico onde fragmentos de sensações,
restos fugidios de cena e sons emergem misturados e faltantes. E a memó-
ria – meio real, meio inventada – nos assombra nem tanto pelo que revela,
mas pelo que pode esconder. É o que acontece com a personagem Joana,
interpretada por Jeane Boudier, em Deslembro.
O primeiro filme da diretora Flávia Castro aborda um momento delicado
para um casal de militantes de esquerda, exilados na França, durante ditadura
militar. Pais de três filhos (Joana, a adolescente filha do primeiro casamento
da mãe, Paco, filho do padrasto chileno e o caçula Leon, filho de ambos), o
Brasil/França/Qatar, 2018. 96 min.DESLEMBRO.
Direção: Flávia Castro
Antunes, Eliane Giardini e outros.Elenco: Jeane Boudier, Sara
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