Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1

20 claudia.com.br agosto 2019


Cultura


iniciativa 50/50 by
2020, lançada pelo
movimento Time’s
Up, tem uma meta
ambiciosa. Quer
alcançar a paridade entre homens e
mulheres em Hollywood até o próxi-
mo ano. Os números mostram que a
barreira a ser superada é grande. Elas
dirigiram apenas 8% dos 250 filmes de
maior bilheteria produzidos nos Estados
Unidos em 2018. Há, contudo, alguns
avanços. Dos 100 maiores títulos do
ano passado, 40 tiveram personagens
principais femininas (8% a mais do
que no ano anterior), sendo 11 deles
com protagonistas com mais de 45
anos e 11 com atrizes pertencentes a
minorias, como negras e trans. Além
disso, cresceu 5% a parcela de rotei-
ristas e de editoras. Em meio a essa
luta, não há como não comemorar o
lançamento de Rainhas do Crime,
escrito e dirigido por Andrea Berloff
e estrelado por Elisabeth Moss, 37
anos, Melissa McCarthy, que completa
49 este mês, e Tiffany Haddish, 39.
Andrea vinha se sentindo frustrada
na carreira quando apareceu a possi-
bilidade de assumir a direção. Mesmo
tendo concorrido ao Oscar de roteiro
original por Straight Outta Compton


  • A História do N.W.A. (2015), sucesso
    de bilheteria sobre um influente grupo


de rap, ela não acreditava que teria
chance de trabalhar com os projetos
que sonhava. “No meio desse desânimo,
comecei a imaginar como seria se as
mulheres tomassem conta de tudo”,
disse em entrevista a CLAUDIA, em
Los Angeles. “Os homens dominam há
3 mil anos e não têm ido muito bem.
Quem sabe fazemos melhor se tivermos
uma chance?” Foi nesse momento que
descobriu os quadrinhos The Kitchen,
da DC Comics, de autoria de Ollie
Masters e Ming Doyle. A trama se
passa na região barra-pesada de Hell’s
Kitchen, em Nova York, no final dos
anos 1970. Três donas de casa veem
seus maridos mafiosos irem para a
cadeia e, precisando sobreviver, resol-
vem dominar tudo. Não tem nada a
ver com super-heróis, como se pensa
quando falamos em quadrinhos. É
um drama de gângster. “É brilhante
e original. Como ninguém tinha feito
um filme sobre isso antes, de mulheres
mafiosas?”, questiona Andrea.

A trama é tão rara que nem as
atrizes sabiam que se tratava de um
roteiro baseado em uma história em
quadrinhos. “Só achei que era uma
única, interessante e com ideias femi-
nistas, ou seja, tudo a ver comigo”, diz
Elisabeth Moss, nove vezes indicada
ao Emmy e ganhadora de dois Globos
de Ouro por dramas como O Conto
da Aia e Mad Men. Em Rainhas do
Crime, ela interpreta uma mulher
religiosa que sofre abuso. Melissa
McCarthy, duas vezes concorrente
ao Oscar por Missão Madrinha de
Casamento e Poderia Me Perdoar?,
também foi capturada pelo roteiro.
“Adoro personagens encurralados, pois
eles criam situações impressionantes
como reação”, afirma. Curiosamente,
a primeira a ser escalada foi Tiffany
Haddish, que ainda não tinha lançado
seu primeiro filme de sucesso, Viagem
das Garotas, e é mais conhecida por
seu trabalho cômico. “Insisti com
meu agente para ler o roteiro e depois

“Nós que trabalhamos com cinema precisamos nos


questionar o tempo todo. Em 100 anos, praticamente


só os homens tiveram a chance de dirigir filmes”


A


Depois de verem os maridos irem para a cadeia, as protagonistas de Rainhas do


Crime assumem posições na máfia irlandesa. Com inteligência – e a violência que


é necessária –, conquistam respeito e dinheiro para sustentar suas famílias.


As atrizes e a diretora falaram com exclusividade a CLAUDIA


ELAS NO COMANDO


TEXTO MARIANE MORISAWA

ANDREA BERLOFF, diretora
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