- Telefonava várias vezes ao dia, todo dia.
- E o que ela dizia?
- Queria saber se estava tudo bem.
- E, na noite em que ela morreu... O que você sentiu?
Eva notou que seus olhos se enchiam de lágrimas. Abriu a boca, tentando falar.
Agora se lembrava. - Eva? Apenas fale, ainda que tenha que chorar.
E foi o que fez, falar enquanto lutava contra o choro. - Senti alívio. Tanto alívio!... Eu me senti livre e, ao mesmo tempo, horrível por
me sentir daquele jeito. - OK. Tente parar por aí.
Eva respirou fundo. Enxugou as lágrimas com duas rápidas passadas de mão,
como se o choro fosse uma torneira que se pode simplesmente abrir e fechar. - Agora vamos voltar para o abrigo de menores. Para alguma coisa que você
sentiu então, por ter ficado sozinha, talvez. O que você me contou foi fabuloso. - Senti que...
Eva se viu interrompida por um enorme estrondo na escada. A psicóloga se
levantou. Outro estrondo, como se alguém estivesse tentando entrar. - O que aconteceu? – perguntou Eva.
- É o ex-paciente de um dos meus colegas.
- Acho que o vi na rua. Moreno, bem caidaço.
- Ele mesmo. Fique tranquila. Não está acontecendo nada.
A psicóloga pegou o celular, que tinha deixado na mesa, e saiu da sala de consulta.
Deixou a porta aberta. Os outros dois psicólogos também tinham saído de suas
salas. Eva os ouviu falar em voz baixa sobre a polícia e o fato de que não podiam
continuar daquele jeito. Um deles disse: “Pelo amor de Deus, isto aqui não é
pronto-socorro psiquiátrico!” O outro fechou a porta principal, à chave, e
Henriette Møller fechou a da sala de consulta, sem olhar para Eva.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1