chamavam de “jornalismo diário de revista feminina”. Mas Eva não ligava. Adorava
a seção e não se irritava com aquilo. Costumava dizer: “Os leitores também
precisam de descontração, conhecer políticos em entrevistas que se concentram não
na política, e sim na vida, no entorno”.
- Talvez você tenha alguma coisa para negociar – disse o jovem repórter de TV.
- Negociar?
- Você sabe como é. Eu dou esta ou aquela informação, e você me dá outra.
Eva olhou para a Chefatura de Polícia, que, se bem tinha entendido, era o último
edifício neoclássico construído na Europa setentrional. Do que ela dispunha para
dividir com o jornalista? Afinal, Eva não sabia de nada. - A casa dele está à venda.
- É, o homem estava no meio do processo de divórcio. Costuma ser o tipo de
situação em que as pessoas acabam resolvendo estourar os miolos. - Você sabe o que a irmã faz? – perguntou.
- A dama de companhia?
- É.
- O que tem ela?
Eva precisava ser rápida. Sentia-se boba; tinha que dizer alguma coisa, qualquer
coisa. - Ontem ela já sabia. Lá pelas onze da manhã, pegou o filho na creche às pressas.
- Muito bem. Como foi que você soube disso?
- Agora é a sua vez.
O repórter soltou uma gargalhada. - Como é? Isso é tudo que você pode oferecer?
- Tenho acesso direto a um membro do círculo mais íntimo da família – disse
Eva, pensando no pequeno Malte, em suas mãozinhas bronzeadas, na pinta naquele
nó dos dedos. - E quem é?