- Perguntou, sim, algumas vezes. Parece que ela está um pouco... você sabe...
- Aborrecida? – sugeriu Eva.
A cozinheira deu de ombros. - Um pouco.
- Você também?
- Quem, eu? Eu sou da África.
Eva sorriu e disse: - Desculpe-me. – Vestiu o avental. Ficou considerando as possibilidades por um
instante. – Sally, acho melhor eu descer e dizer à Anna que cheguei.
Sally sorriu, como se já tivesse esquecido que Eva havia chegado tarde. “Será que
os africanos deixam mesmo tão rápido os problemas, preocupações e
aborrecimentos para trás?”, pensou Eva. Oxalá pudesse aprender com ela. Assim
não precisaria mais passar tantos meses de vida numa constante obscuridade. Assim
esqueceria todo pesar no dia seguinte, como Sally.
Saiu da cozinha, atravessou a creche às pressas e deixou para trás os pequenos
armários com sapatos, luvas e casacos em tamanho mirim. A porta do corredor
estava fechada. Abriu e acendeu a luz. Torben e Anna estavam bem diante dela. - Oi – disse, pega de surpresa. Por que não tinham acendido a luz? Será que
estavam...? Não, Eva tirou a ideia da cabeça – ou ao menos tentou, ainda que não
tivesse conseguido de todo. Os dois estavam muito juntos quando ligou o
interruptor. Parecia uma situação bastante íntima. Talvez estivesse enganada; fosse
como fosse, não era problema seu. - Bom dia – disse Anna, sem que Eva pudesse determinar se havia nisso algum
sarcasmo. - Oi, Eva – disse Torben, e voltou a olhar para Anna. – Vai chegar daqui a
pouquinho. - Mas não disse que vinha às dez?
- Já são quase dez.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1