- Não estávamos casados. Não deu tempo.
- Não, porque ele foi e morreu. Triste, é claro, principalmente para ele; mas é o
que acontece quando a gente fica zanzando pelo Afeganistão, bancando o Rambo
com os outros babacas sem cérebro. A gente morre disso, sabia? - O Martin não era assim – disse Eva, e viu que estava gritando. – Queria fazer as
coisas de outro jeito. - O cacete! Quantas vezes a gente já não viu isso? Caras que andam por aí de
pistola na mão em algum deserto do mundo, berrando que são eles os bonzinhos ao
mesmo tempo que atiram a torto e a direito. Estou cagando para eles. E estou
cagando para jornalista que se junta com um idiota desses. De que jeito a senhora
acha que vai conseguir ter uma atitude crítica diante de tudo o que está
acontecendo? - Ele cuidava de mim – sussurrou Eva.
Tinha se levantado. As lágrimas... Já fazia um tempinho que tinha desistido de
segurá-las. Queria dizer algo mais, gritar alguma coisa na cara de Rico, mas as
palavras se negavam a sair. Nisso, Rico não parecia ter dificuldade nenhuma. - Que se fodam! – ele disse. Jogou no balcão uma nota de cem coroas e foi
embora.
Eva o alcançou no calçadão. Rico não parou, limitando-se a olhar rapidamente
para ela, e continuou andando rumo à estação. Eva caminhava ao lado dele.
Naquela altura, já tinha quase controlado as lágrimas, mas ainda tremia.
- Rico?
Ele continuou em frente. - Rico. O celular.
- O quê?
- Preciso que alguém desbloqueie o iPhone.