chamou. Estava sentada no Kastellet.[9] Sim, agora se lembrava de tudo. Por mais
que Eva tivesse sussurrado “Back to the future”, Rico tinha aberto as comportas e
deixado correr tudo aquilo em que ela não devia pensar – no milhão e duzentas e
setenta e nove mil coroas; numa tarde muito tempo antes; em que tinha levantado
os olhos quando o militar entrou. Já contava que ele viesse de uniforme, que todos
estariam de verde-escuro, com medalhas e estrelas reluzentes nos ombros.
Entretanto, ele estava de jeans, jaqueta azul e camisa branca.
- Nós nos falamos pelo telefone, não? Meu nome é Asger Christensen.
- Sim – disse Eva, então aliviada por voltar a ouvir a própria voz. Lembrava que,
naquela manhã, não tinha dito palavra a quem quer que fosse. Era uma hora da
tarde. Um solitário “sim” nas sete horas desde que tinha acordado. - Vamos lá. Café?
Eva o seguiu até o escritório. Na realidade, tinha achado que as instalações da
fortaleza pareceriam mais antigas, que o piso rangeria de velhice e que faria frio
atrás das grossas muralhas e paredes.
Ao cruzar o fosso pela passarela e entrar no Kastellet, pensou na guerra, em como
é antiquada, em como é inacreditável e espantoso que continuemos a mergulhar
nela de cabeça. A fortaleza tinha sido construída fazia vários séculos, com fossos e
canhões, e parecia vestígio de um passado longínquo. Nada, porém, tinha mudado.
O campo de batalha se transferira de Copenhague para o deserto de um país
distante; os inimigos já não eram os suecos, e sim algumas tribos. Mas, de resto,
continuava tudo na mesma. A sentinela, os canhões, a prisão, as paradas, as
honrarias e o “Senhor, sim senhor”. - Não entendi se você quer café ou não – disse Asger Christensen.
- Só se você quiser também.
Ele olhou rapidamente para Eva, deu um sorriso e disse: - Dois minutos. Já volto.
Eva olhou as fotografias da rainha e do marido, o príncipe consorte Henrique.