Estavam separados, cada um em seu retrato. Eram fotos antigas. O príncipe usava
um uniforme repleto de medalhas. Teria ele, a exemplo dos filhos, sido militar
alguma vez? Eva olhou em volta. Tudo estava recém-reformado e lembrava mais
um escritório moderno que um vetusto comando militar. Deviam ter gastado
muito dinheiro, lembrava-se de ter pensado na época. Talvez por isso tivessem
chegado à cifra de um milhão duzentas e setenta e nove mil coroas. Provavelmente
era o que podiam permitir-se pagar. A soma aumentava se o militar tinha filhos,
mas Martin não tinha. Deveria ter tido. Queriam ter filhos.
Quando Asger Christensen voltou, deixou uma bandeja na frente de Eva.
- Normalmente trabalhamos em outros locais, mas, como eu já estava na cidade e
de todo modo tínhamos que encerrar este assunto... – ele disse. - Você já falou com os pais do Martin?
Ele tinha sentado. Serviu o café quente, em duas xícaras, e só então respondeu. - Pois é, já estive em contato com eles.
- O que disseram?
- Estão impacientes. Gostariam de virar a página.
- Virar a página? – Eva balançou negativamente a cabeça. – Faz só meio ano que
o Martin foi assassinado.
Asger pigarreou. - Que ele morreu.
- E qual a diferença?
- É grande. Há muita diferença entre “assassinado” e “morto”. “Assassinado”
implica que alguém concreto atentou contra a nossa vida. “Morto” quer dizer, no
caso do Martin, que ele faleceu defendendo uma causa. - Uma causa? – disse Eva, com a fúria à flor da pele, e tornou a olhar para a
rainha. - Eva, nós entendemos a sua raiva.
- Não! Não entendem, não – disse em voz alta, mais alta do que pretendia.