- David, acho que você ainda não entendeu. Se você é que tivesse sido ferido de
morte na casa, se ela tivesse lhe dado uma facada no pulmão e você estivesse deitado
ali no banco de trás e só tivesse mais uns minutos de vida, eu ainda assim
continuaria não querendo ir para o pronto-socorro. Entendeu agora? Todos somos
descartáveis. Ninguém está acima da nossa causa, da nossa luta.
David balançou a cabeça, negativa e imperceptivelmente. Olhava para a frente,
para a estrada. Marcus tornou a cobrir o ferimento com a fita. Bem poucas
mulheres o haviam mordido. Essa agora tinha algo de especial, algo que Marcus só
havia visto em quem não tinha nada a perder – soldados que perderam o ânimo,
pessoas que haviam perdido a família, esse tipo de adoidado. Marcus olhou
fixamente pela janela, tal qual vinha fazendo desde que tinham saído de
Hareskoven. - O cara que ela abraçou.
- O do bar.
- Será que ela deu o celular para ele?
- Ou deixou lá na creche.
- Talvez.
- Ou, sei lá, nem foi ela que roubou.
- David! – gritou Marcus, algo que fazia muito poucas vezes. – Quando é que
você vai acordar? - Você está falando do quê?
- Isto aqui é uma guerra! Você entendeu? Estamos no meio de uma guerra. Eu e
você, ninguém mais. Quer sair da guerra? É isso?
David não respondeu. - Pare aqui – ordenou Marcus. David obedeceu; ligou o pisca-pisca e parou no
acostamento. - Fomos largados atrás das linhas inimigas, você entende? Estamos só eu, você e o
que eu e você compartilhamos. Essa é a única coisa, soldado, a única coisa que vai
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1