Torben não estava gostando da situação. Ao que parecia, não conseguia manter as
mãos quietas. E ainda havia aquele sorriso. “Largo demais, forçado demais”, pensou
Eva. Já Kamilla não estava sorrindo. Simplesmente sentou ao lado de Eva e olhou
com expectativa para Torben. Este inclinou a cadeira do escritório ligeiramente
para trás, talvez para criar mais distância entre ele mesmo e as duas mulheres que
tinha diante de si. Manchas de suor se espalhavam pelas axilas do diretor.
- Bem, precisamos fazer um controle do episódio de ontem – ele disse, e fixou o
olhar num ponto entre as duas. – Foi um dia meio tumultuado; acho que nisso
podemos concordar. - Já apareceu a bolsa? – perguntou Kamilla.
- O celular – disse Torben, corrigindo-a. – Não; que eu saiba, não. Acho que a
mãe de Malte está pensando em dar queixa na polícia. - Mas ela tem certeza de que foi mesmo aqui que sumiu? – disse Kamilla. – Ela
pode ter perdido mesmo antes de ter chegado. - Ela descarta enfaticamente essa possibilidade. Disse que sabe muito bem que
estava com ele quando entrou na creche. Mas é possível que esteja enganada, é
claro, e é também por isso que eu gostaria de me desculpar.
Torben olhou para Eva. Por um instante, ele deixou que seus dedos brincassem
com o pingente que tinha no pescoço, “o dente de um animal marinho”, pensou
Eva. - Por ter desconfiado de você daquela maneira... – Interrompeu-se. – Mas acho
que eu estava um pouco estressado.
Eva olhou para ele. Tentou concentrar-se na situação. Ainda tinha na cabeça a
imagem de si mesma sendo arrastada pelo lenço de seda até a estação seguinte, em
Næstved. Também lhe pareceu que sua própria voz soou estranha quando enfim
disse algo, embora os outros não tivessem notado nada de esquisito: - Como está a menina?