- A Esther, se consideradas as circunstâncias, está bem – disse Torben,
claramente encantado em poder falar de outra coisa que não o celular sumido. –
Passou a noite em observação no hospital, mas já voltou para casa. Pode ser que
venha amanhã para a creche. Os pais vêm hoje para uma reunião... - Simplesmente não entendo como pode ter acontecido uma coisa dessas – disse
Kamilla, interrompendo-o. Seu tom era ligeiramente acusador, impressão que o
olhar reforçava, não dando a Torben a mínima oportunidade de se safar. - No fim das contas, é muita criança num lugar muito pequeno – disse ele. – E
onde tem gente, tem acidente. - Mas não se trata só da segurança das crianças. Também é muito difícil para os
funcionários. Se acontece alguma coisa com os pequenos que poderia ter sido
evitada... - Ah, Kamilla, tenha dó! – Torben se inclinou ligeiramente por sobre a mesa, na
tentativa de reforçar a própria autoridade. Eva não estava certa de que ele tivesse
conseguido. – Sei muito bem que você anda com ojeriza de mim, mas escute: OK,
tivemos um acidente. Mas essas coisas acontecem, a menina vai voltar logo, não há
motivo nenhum para ficar dando mais importância do que o estritamente
necessário. Pelo contrário, acho que deveríamos esquecer o assunto o quanto antes
e seguir em frente, para o bem de todos. - Mas ela podia ter morrido. Igual ao que... Bem, você sabe do que estou falando.
Não dá para aceitar certas decisões.
Silêncio. Torben olhou pela janela. Eva sentiu uma vibração no bolso. Pegou o
celular, mas deixou-o escondido debaixo da mesa. Olhou para a tela. Era Rico. Ele
já tinha ligado duas vezes. - Tudo bem se eu atender?
Ninguém respondeu. Kamilla olhou para Torben, que continuava olhando pela
janela. Ele parecia um enxadrista cujo adversário acabava de dizer xeque-mate.
Quando Eva saía, viu que Kamilla dizia em tom imperioso que não podia ser
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1