- Tim falando – disse um homem que não tinha dedicado os anos a perder o
sotaque americano. - Oi, Tim – disse Eva, esperando poder evitar o excesso de papo furado. – É Eva
Katz. Você se lembra de mim? - Eva?
- Fizemos faculdade juntos.
- Ah, aquela Eva!
- Essa mesma. Essa Eva. Você era amigo do Rico. Será que teria o endereço dele?
O prédio da Gråbrødre Torv estava sendo reformado e quase não ficava visível da
praça atrás dos andaimes.
No porteiro eletrônico, só aparecia o sobrenome de Rico. Eva tocou a campainha
e esperou. Talvez não estivesse funcionando. De repente, teve dúvidas. Será que ela
e Rico tinham combinado para outro dia, talvez o seguinte?
- Vai entrar? – Uma moça abriu a porta de dentro, e perguntou: – Você
consegue encarar a bagunça?
Eva sorriu. - Obrigada – disse, e deixou que saísse.
- Vamos fazer uma coisa – disse a garota, e largou a tranca. – Só vou até a banca,
fecho a porta depois. – Foi-se embora sem olhar para Eva.
Tralhas de pintor, baldes, um carrinho de obra apoiado na parede, partes do piso
e da escada cobertas de plástico. Cheiro de tinta e de massa de vidraceiro, produtos
de limpeza, reboco, poeira, sentia tudo isso nos olhos e nos pulmões.
Quarto andar. Os andaimes tapavam as janelas e não deixavam entrar a luz do
entardecer. Não havia nome na porta do apartamento, mas, já que a plaqueta da
outra porta mostrava um nome de mulher, Eva aplicou o método de eliminação e
bateu. Nada. Pôs a mão na maçaneta e a baixou. A porta se abriu.