- Não, que nada.
- Mas a verdade é que as pessoas costumam ter dificuldade na primeira vez que
vêm. Passam direto pelo cruzamento e acabam na rotatória. - Ah, entendi – disse Eva, e assentiu com a cabeça, sem saber muito bem do que
Mie estava falando.
A porta que havia no começo do corredor se abriu, e aquele pai da bicicleta de
entregas entrou. Estava visivelmente irritado. Havia tirado o capacete e tinha o
cabelo amassado e oleoso. “Essa deve ser a aparência que a Dinamarca tem de
manhã tão cedo”, pensou Eva. No jornal, antes de ter sido despedida, os
funcionários nunca tinham esse aspecto quando chegavam para trabalhar; mas
talvez também tivessem passado pela creche antes, com cara de quem acabou de sair
da cama, exalando mau hálito e usando calças de moletom. No fim das contas, Eva
não tinha como saber, pois nunca havia estado numa creche antes. A única coisa
que sabia era o que, nos tempos de jornal, tinha lido por cima, sem muito interesse.
Lembrava vagamente alguma coisa sobre vagas garantidas. Algo sobre os pais terem
direito a vaga tão logo as crianças completavam um ano de idade e, ainda que eles
pagassem parte da mensalidade, o Estado tomar para si o grosso do custo.
O homem vinha carregando o filho. - Acabo de falar com a Kamilla. Assim não dá. É um bicho perigoso!
- Recomendo que você vá direto ao escritório da Anna – disse-lhe Mie, e olhou
para Eva.
O pai levantou a voz para Mie. - Você entendeu o que eu acabei de dizer?!
- Um momento aí. Calma. Eu estava justamente dando as boas-vindas à nossa
nova funcionária. - Tenho reunião em vinte minutos – disse o pai, e bateu com dois dedos no
pulso, onde poderia haver um relógio, mas onde se via apenas uma pulseira de
couro com um pingente oriental.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1