Eva entrou e quis apertar a mão da mulher.
- Nossa! – Com um sorriso, Mie olhou para a mão de Eva, deu-lhe um aperto
rápido e mole e acrescentou: – Aqui não costumamos ser tão formais.
Eva ficou ruborizada; talvez ter tingido o cabelo também tivesse sido erro, talvez
tivesse se esforçado demais para melhorar a aparência. A professora tinha cabelo
curto e despenteado, como se acabasse de sair da cama; um cabelo descuidado como
as ervas daninhas, que brotam caprichosamente, sem fazer concessões à estética. Até
aquele momento, Eva não tinha reparado no cheiro do lugar, um cheiro penetrante
que dava náuseas. Limitou-se a respirar pela boca. Era possível que, com tantas
crianças juntas, o fedor fosse simplesmente aquele – de excremento, fraldas
empapadas de urina, corpos nada asseados, meias sujas, meleca, baba, lágrima.
Também havia outro cheiro, misturado com o resto; um cheiro enjoativo de doce,
talvez de pãezinhos recém-saídos do forno. - Não quero me meter onde não fui chamada, mas há uma professora lá fora que
me pediu que avisasse que...
Eva ponderou se transmitia o recado com exatidão ou se oferecia uma versão
condensada. Optou por reproduzi-lo palavra por palavra; pelo visto, restava-lhe
algo da jornalista que tinha sido. - Ela chegou na hora, mas não pode entrar na instituição por motivo de
segurança pessoal.
Mie a olhou como se não estivesse entendendo nada. - O cão de rinha – acrescentou Eva.
- Ah, tá! OK. Aquele bicho de novo. É melhor que você mesma fale com a Anna.
Venha comigo.
Eva seguiu Mie, percorrendo a creche. Passou em frente a uma fileira de pequenos
armários de escola, com um nome da moda escrito na porta de cada um deles:
Karla, Esther, Storm, Linus. - Foi difícil achar a creche?