- Algumas vezes. E ontem você evitou muitas mortes. Evitou que muitos jovens
perdessem a vida antes da hora. Está me ouvindo?
David se aprumou. Comprimiu as mãos contra as pálpebras, como se pudesse
devolver as lágrimas ao lugar de onde vinham. Ainda assim, elas deslizaram por
baixo das mãos e pousaram no vidro da mesa.
Marcus se levantou, sentou ao lado de David, pôs a mão no ombro dele. - Agora vou pedir algumas coisas, OK? Vão parecer clichês, mas fazer o quê? É o
que acontece com as verdades quando são repetidas do jeito que fazemos. Porque
cabe a nós cuidar da parte difícil. Porque aguentamos muito peso em cima dos
ombros, muito mais do que quaisquer outros no Reino da Dinamarca. David? Está
me ouvindo? - Estou.
- Os dois jornalistas apontaram os canhões deles contra nós, e ponto-final.
Simples assim. Eles teriam nos atingido. - Não é preciso que...
Marcus o interrompeu: - Não, não. É preciso, sim. Vamos falar disso como sempre fazemos quando
voltamos de uma missão de reconhecimento. Nós nos reportamos quando temos
uma experiência desagradável, quando ficamos com alguma cicatriz na alma. Aí
sentamos dentro da barraca de campanha, atrás do arame farpado, com o vento do
deserto soprando lá fora, e falamos do que aconteceu. É o que estamos fazendo
agora. Estamos na barraca, foi uma noite ruim. Mas sabemos que agimos sem
perder a cabeça, que garantimos a situação e que conseguimos o que tínhamos ido
procurar. Protegemos a Instituição. Soldado? - Eu.
- Olhe a Grécia, os manifestantes morrendo nas ruas. Olhe o Egito, a Síria, morte
que não acaba mais. Povos divididos que voltam a lutar entre si. Foi isso que você
evitou. Vai haver quem diga que nada disso é certeza. Mas será que não é?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1