Martin e Eva teriam dado a eles? Uma mistura da firme visão de mundo de Martin
com o constante medo de Eva. Teria tido tanto medo de que acontecesse alguma
coisa com os filhos! O mesmo medo que a mãe tinha tido e que só piorou depois
que Eva se perdeu perto da Fontana di Trevi. Por que estava pensando nisso agora
que tinha enfiado a chave na fechadura?
“A chave na fechadura.”
“Todas as moedinhas na água.”
Segundo o folclore, a gente tem que jogá-las na água se deseja rever Roma, e os
pais lhe haviam explicado isso ali, junto àquela fonte celestial. Eva tinha se soltado
da mão da mãe, que não queria mais atirar moedas na fonte. Eva queria jogar muito
dinheiro lá; queria ter certeza de que voltaria a Roma.
Deu as costas para a porta.
Tinha voltado por onde eles haviam vindo. Era do que se lembrava, com apenas
cinco anos e o monte de pessoas que lhe tapavam a vista. Não achava o carro, não
lembrava onde estava estacionado, mas lembrava que havia umas moedinhas no
banco de trás. Foi assim que continuou em frente. Talvez por aquela transversal?
Eva olhou por cima do ombro. A chave continuava na fechadura. Por um
instante, sentiu-se como a menina pequena que tinha se perdido em Roma e que
nunca acharam.
- O que posso perder? – disse a si mesma antes de girar a chave.
De início, ficou parada no vestíbulo, quieta, prestando atenção. Aquele era o som
de Hareskoven às seis da manhã: um trem distante que viajava através da floresta;
um ciclista que, vindo de algum lugar, se aproximava ruidosamente; o canto das
aves; a própria respiração de Eva, cada vez mais forte à medida que subia a escada. Ia
desarmada. Agora sabia que, se estivessem mesmo na casa, uma faca de cozinha não
faria diferença nenhuma. O quarto estava vazio. Estava sozinha. Refez os passos, até