A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

porta. Ela se abriu. Deu uns passos para dentro, envolta na penumbra. “Use a
cabeça, droga!” Deu meia-volta e achou o que procurava – um trinco. Fechou-o.
Ficou alguns segundos imóvel, ouvindo como o homem puxava a porta. Eva bateu
na madeira com a mão, sentiu as lágrimas nas faces, sentiu-se também
repentinamente valente. Valente porque ele não tinha como alcançá-la.



  • Não vamos esquecer nada, desgraçado! – gritou, pensando em toda a besteira
    que ele, havia pouco, tinha falado sobre história e elenco. – Vou ter o papel de
    protagonista de merda na sua tragédia pessoal!
    Eva bateu outra vez na porta. Sentiu a raiva, sentiu o prazer – em contraste com o
    desespero – que resultava da raiva. Aguçou os ouvidos. O homem tinha sumido.
    Provavelmente não tinha ouvido uma palavra sequer do que ela gritou. Ele estava
    fazendo o caminho de volta, pela escada. Sendo a máquina que era, não pensava em
    desistir.
    Eva correu no escuro. Percebeu o sangue no braço. Saiu num corredor com caixas
    poeirentas e chapas de metal apoiadas contra a parede. Outra porta. Esta dava
    numa escada de pedra, em caracol, que descia pela torre e que Eva percorreu o mais
    rápido que lhe foi possível sem perigo de cair. Lá embaixo, longe dali! Chegou ao
    pórtico justamente quando os sinos começavam a tocar e os presentes ao funeral se
    preparavam para sair da igreja. Eva já estava do lado de fora. O ar, o sol contra o
    calçamento de pedra, o azul acima da cabeça. Correu até o carro.

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