A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Ah, claro. Aqui está.
    Um rosto amável. Eva poderia ter ficado olhando para ele o dia todo. Acendeu o
    cigarro. Eva não fumava desde que tinha conhecido Martin. Ele era fanaticamente
    não fumante. Mas agora, de repente, fumar era fantástico!
    Pediu um copo de vinho, por um preço que não podia permitir-se. “OK”, disse a
    si mesma enquanto sentia o álcool e a nicotina exercerem seu efeito calmante sobre
    os nervos. “O que é que eu faço agora? Faço o que é mais sensato no momento.
    Faço a única coisa que importa. Dou um jeito de continuar viva.”
    “É, dou um jeito de continuar viva.”
    Olhou ao redor, para os rostos que a rodeavam. Estaria algum deles
    mancomunado com seus perseguidores? O rapaz que estava sentado quase em
    frente a ela e que tomava pequenos goles de café enquanto mandava mensagens
    eletrônicas para o mundo? E o que dizer da mulher de uns trinta anos que colocara
    os óculos escuros na testa e carregava um bebê? Será que o bebê era disfarce? Será
    que a mulher não a estava vigiando? Talvez. Eva se levantou e já se preparava para ir
    embora quando ouviu uma voz interior dizer: “Não”. Voltou a sentar. Não podia
    deixar que a paranoia se apoderasse dela. “Se você deixar, vai enlouquecer”,
    sussurrou a voz. “Em vez disso, precisa lutar contra a paranoia. E levar a melhor.”
    Juntou coragem e encarou a mulher, com toda a naturalidade e despreocupação que
    conseguiu fingir. Nenhuma reação. Não eram mais que duas pessoas cujos olhares
    tinham se cruzado por acaso, como costuma acontecer milhões de vezes por dia em
    qualquer cidade do mundo. “Que bom seria se Martin estivesse aqui!”, pensou, e
    por um instante teve vontade de cair no choro. Ou pelo menos Rico. Alguém com
    quem pudesse falar. Esvaziou o copo e tornou a levantar. De súbito, sentiu o
    cansaço no corpo, uma rigidez esquisita nos braços, as pernas pesadas, os olhos
    inchados. E agora? Faria o quê? Sim, tinha que voltar para o Pomar das Macieiras.
    Estavam esperando por ela. Quem? As crianças ou o homem que viria matá-la?
    Talvez uma e outra coisa. Não podia voltar. A certeza demorou um pouco para se

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