Estação Central de Copenhague – 19h
Mesmo que se esteja fora da sociedade, continua-se plenamente inserido nela.
Eva, em meio à multidão da Estação Central, estava ponderando suas
possibilidades. Infelizmente, tinha diminuído em grau considerável no decorrer da
tarde a euforia provocada pela falta de posses; foi pouco a pouco substituída pelo
vazio, como se o cérebro fosse incapaz de engendrar um único pensamento
coerente; e, quando os pensamentos enfim vieram, foi com uma força e uma
velocidade que quase a derrubaram, como num bombardeio – a casa, Martin, o
homem que Eva tinha mordido, aquele que queria acabar com a vida dela, aquele
que tinha tirado a vida de Rico. Mais pensamentos. Mudar-se. Escapar. As ilhas
Féroe. O Marrocos. Não, o Marrocos não; algum lugar com bebida alcoólica.
Comprou um café no McDonald’s e deixou o saguão da estação. Saiu para o sol, o
burburinho e os gritos que vinham do Parque Tivoli. Estava perto de uns
alcoólatras que ficavam sentados na escada em frente à estação e tinham o olhar
cravado, como se fossem zumbis, em sua cerveja de alto teor alcoólico e seu vinho
em embalagem longa vida. Eva já não estava chorando; as lágrimas tinham sido
substituídas por raiva, um sentimento irracional e claustrofóbico de estar presa
mesmo encontrando-se no centro de Copenhague e podendo fazer o que lhe desse
na telha, desde que, é claro, não custasse dinheiro algum nem exigisse a participação
de mais alguém.
De repente, lembrou-se de uma coisa que Martin tinha dito numa noite em que