exuberante, cachos castanho-aloirados e frívolos, sorriso melancólico, olhos grandes
que escondiam um segredo.
- A aparência era pura isca – disse Eva para si mesma.
E, de novo, deparou com um olhar de descontentamento: - Você vai demorar muito? – perguntou um homem que esperava para também
usar o computador. - Não – retrucou, e voltou à página de internet. Sim, Barbara von Krüdener
usava seus atributos como isca. Era uma mística que tinha morrido fazia tempo e
que tinha enredado um czar, coitado, com sua mistura de sensualidade exacerbada e
pensamento esotérico. “Quem não preferiria ler sobre ela a ler sobre a maldita
União Europeia?”, pensou Eva, a ponto de sair da página com uma clicada. No
começo, quase não entendeu o que tinha encontrado na parte inferior do quadro,
na mão esquerda de Barbara, que estava ligeiramente fechada – quase com
despreocupação – em torno de duas flechas. Duas flechas como as que os anônimos
colegas de Brix tinham depositado em cima do caixão. Eva procurou entender
aquilo. Talvez fosse coincidência; só podia ser. Barbara morreu no Natal de 1824.
O que significavam as duas flechas? No quadro, o filho de Barbara posava junto a
ela segurando um arco, como um Cupido. Eva voltou ao Google e digitou primeiro
“arco e flecha significado”. Vendo que quase não aparecia nada, digitou em inglês,
“arrow meaning”. O significado bíblico, concluiu, eram a verdade e a sabedoria. O
arco simbolizava a verdade, e as flechas eram mísseis sagrados, carregados de
sabedoria e conhecimento espirituais, uma coisa para poder lançar e alcançar
outros. Aquilo fazia sentido? Eva digitou “Christian Brix + Barbara von
Krüdener”. Não achou nada que os ligasse de verdade. Leu sobre a baronesa
Barbara Juliane von Krüdener, que nasceu em 1764 em Riga, no Império Russo, e
cujo pai lutaria nas guerras da czarina Catarina, a Grande. Uma coisa foi ficando
clara para Eva à medida que lia: o destino predeterminado era algo que tinham
suprimido de nossa realidade social-democrata. No tempo de Barbara, muitas vidas