- Bateram a minha carteira agora à tarde, no calçadão da Strøget.
A recepcionista a olhou durante um instante, enquanto Eva escrevia. “Uma coisa
ridícula, isto aqui”, pensou Eva, porque a garota sabia que ela mentia e porque Eva
sabia que ela sabia. Mas a garota não estava nem aí; claro que não estava. Tinha um
desses empregos que os estudantes arrumam em hotéis baratos de Vesterbro,
faltavam só umas dez ou doze horas de plantão, e a única coisa em que pensava era
em voltar para casa e transar com o cara com quem acabara de falar. - Aqui tem muito punguista – disse Eva, na tentativa de quebrar aquele clima
esquisito. - É, tem – a garota teve tempo de dizer antes que o celular voltasse a tocar e ela
ficasse com pressa. – Quarto 32, no terceiro. OK? – Pôs a chave em cima do balcão.
Eva pagou quinhentas e trinta coroas pelo pernoite. Caro, mas não ligava;
naquela hora, teria pagado um milhão se preciso. - Você vai ver que o elevador está meio enferrujado. Mas não costuma quebrar.
- Obrigada – disse Eva, e enfiou a chave no bolso. – Acho que vou subir pela
escada.
A garota já estava de celular na mão. - Faça o favor de não ficar chamando o tempo todo – disse a Eva antes mesmo
que esta chegasse à escada e começasse a subir. Eva tinha subido só uns degraus
quando se arrependeu e voltou ao balcão. - Sim?
A garota, sem conseguir esconder a irritação, cobriu o fone com uma das mãos. - Desculpe se venho incomodar mais um minutinho – disse Eva. – O que eu vou
dizer é muito importante, entendeu? - Entendi. O que é?
- Se aparecer alguém perguntando por mim ou pelo meu quarto, não deixe subir.
Estamos entendidas? - OK.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1