andar? Ou o quarto?
Marcus deu uma olhada.
- O prédio só tem três andares.
- OK. Está vendo a escada?
- Estou – sussurrou Marcus. – Vai para o porão, e acho que também para a
cozinha. Vou descer por lá agora mesmo. Eu volto a me conectar quando estiver lá
dentro. - Certo.
Com passos rápidos, entrou num corredor de cimento, estreito e sujo, que se
estendia ao longo da parte traseira do hotel. Marcus olhou pela janela. O brilho
vermelho e fraco de um letreiro luminoso que anunciava: “Saída de emergência”.
Utensílios de cozinha, facas pendentes da parede, um fogão do tamanho de uma
mesa de bilhar. Aproximou-se da porta, mexeu na maçaneta. A porta estava
trancada, naturalmente, e parecia nova e sólida. Um pouco adiante, outra janela,
quase escondida, porque a luz não chegava ali. Ficava a metro e meio do chão, talvez
um pouco mais, e Marcus passou o dedo pela moldura. Velha e apodrecida, com
uma única vidraça.
O orçamento só tinha dado para trocar as portas, pensou Marcus, antes de
ponderar o ruído que poderia fazer quando quebrasse a vidraça com o cotovelo e
abrisse o trinco. Havia um pedaço velho de pano no chão. Marcus o apoiou contra
a vidraça, na esperança de que absorvesse parte do barulho.
Antes de quebrar a vidraça, pensou numa data concreta, o 10 de janeiro de 2010,
e num fato concreto – o assassinato do líder palestino Mahmoud al-Mabhouh,
levado a cabo pelo serviço secreto israelense, o Mossad. Pensou nesse assassinato
porque o admirava, porque era uma obra de arte, uma genialidade técnica e
logística, realizada à perfeição. Os agentes do Mossad chegaram a Dubai com
passaportes da União Europeia furtados de uns israelenses com dupla
nacionalidade. Estavam disfarçados de tenistas quando entraram no hotel.