alvo móvel, um inimigo na noite, não uma coitada que estava encurralada num
tubo de alumínio. Ergueu a pistola, apoiou-a na mão esquerda e apontou.
- Puxa vida, vamos lá! – murmurou.
- Chefe, você disse alguma coisa?
- Não consigo.
Ouviu Trane dar partida – ou era um som que vinha da rua? Olhou para trás.
Nada. Eva tinha se distanciado demais; não conseguiria acertá-la. O que estava
acontecendo com ele? Olhou para a mão; ela tremia. Começou a correr. Isso lhe fez
bem. Já que o maldito indicador se recusava a obedecer, talvez conseguisse deixar
Eva sem fôlego. Apressou o passo. Atravessou a rua. Alguma coisa no ouvido? Um
chiado rápido. Era Trane dizendo algo? O carro; Marcus se voltou. Teve tempo de
ver dois faróis e ouvir um ruído. Então foi atropelado. Teve a sensação da ausência
de gravidade, de flutuar confortavelmente no ar. Uma sensação agradável. Veio a
escuridão.
Em plena noite, uma mulher só de calcinha e top branco corria pela fria
Copenhague. Chovia, gotas pesadas martelavam o asfalto e lhe molhavam o rosto.
Tinha visto o carro atropelá-lo e jogá-lo para o ar como um boneco. Ela havia
parado um instante; pensou em voltar, acabar com ele, com seu inimigo, mas deu-
lhe as costas e continuou correndo. Alguém gritou alguma coisa para ela. Eva
correu pela Vesterbrogade abaixo, junto às paredes das casas; não pensava com
clareza. Talvez tivesse corrido em círculos. Tinha se concentrado tão somente na
sobrevivência, mas começava a sentir frio, agora que estava encharcada de chuva,
que o frio da noite a abraçava. Roupa. Uma lona. Qualquer coisa que repelisse o
frio. Mas onde? Não tinha dinheiro, não tinha nada. Tudo era escuridão, tudo
estava fechado e apagado. Um brechó. Da Cruz Vermelha? É, muitas vezes
deixavam sacos cheios de roupa na porta. Roupa para os pobres, para quem não