A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Ele sabe quem é. A mulher dele avisou que eu vinha.

  • OK, Eva. Sente-se um pouquinho. Vou ver se ele está acordado e se quer receber
    visita.
    Eva se sentou numa das três cadeiras encostadas contra a parede. Olhou as flores
    nas mesas, os cartazes na parede em frente: “Familiares, participem da reunião
    informativa às terças-feiras”. Terças-feiras. Martin tinha morrido numa terça. Seria
    preferível morrer ali, no hospital, tranquilamente, a voar pelos ares em algum
    deserto longínquo?
    Eva sentia-se mais ou menos recuperada. Estava com o corpo dolorido, mas já não
    parecia sentir o cansaço. Era como se ele tivesse se tornado um estado permanente,
    uma condição básica, como a respiração. Ou seria a adrenalina o que a mantinha
    desperta? Uma espécie de vontade de lutar, o instinto de sobrevivência.

  • Eva?
    A enfermeira provavelmente já a tinha chamado algumas vezes.

  • Sim?

  • Ele não tem certeza de quem você seja, mas está acordado e não vê problema em
    receber a visita.
    Eva se levantou e seguiu a enfermeira pelo corredor. Não conseguiu deixar de
    olhar o interior dos quartos onde os moribundos esperavam tudo acabar em
    definitivo.

  • Você já pode entrar – disse a mulher. – Mas não se demore, OK? O Jan está
    muito cansado.
    Eva, antes de abrir a porta, ainda bateu duas vezes, de mansinho, como se algum
    ruído maior e inesperado pudesse tirar a vida do jornalista moribundo. Jan
    Lagerkvist estava sentado na cama e olhava para Eva. Estava velho, pensou ela.
    Parecia muito mais idoso do que de fato era. A quimioterapia o tinha deixado sem
    cabelo e sem sobrancelhas, com os olhos cansados e fundos.

  • Você é quem?

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