Toda vez que eles davam a ideia, a população do continente ficava completamente
doida. Basta a ideia de união, solidariedade, paz para atiçar o pior que há em nós.
Então, os graúdos resolveram embalar a coisa de um jeito um pouco diferente,
aquela história de vinho velho em garrafa nova. Você está entendendo?
- Estou.
- Em 1957, seis países da Europa assinaram o Tratado da Comunidade do
Carvão e do Aço. Ninguém subiu pelas paredes por causa disso. Não é verdade? - É – respondeu Eva.
- Mas durante a assinatura, em Roma, Monnet se virou para Schuman e
cochichou: “Isto não é a Comunidade do Carvão. É o nascimento dos Estados
Unidos da Europa”. OK? - OK.
- O que estou dizendo são fatos, devo lhe dizer. Mas eles sabiam que não dava
para vender aquela invenção aos europeus, esses doidos, nacionalistas do jeito que
são. Por isso, nos últimos setenta anos, só fizeram enganar a população. Quantos
europeus sabem disso? Quantos sabem que somos tão sanguinários e odiamos tanto
as outras nações que é preciso enfiar a paz de fininho pela porta dos fundos do
continente? - Muito poucos?
- E quanto se fala da União Europeia nos noticiários?
- Não muito.
- Não muito?! Proporcionalmente ao que a União Europeia influencia a nossa
vida, ela deveria ocupar dois terços do espaço dos jornais impressos e todos os
telejornais, com exceção talvez do boletim meteorológico. Mas do que é que
falamos aqui na Dinamarca? De um pirralho do Marrocos que não está satisfeito
com os pais adotivos. Do que mais? De um retardado que disse coisas feias sobre o
islã. Isso tem relevância para a vida que levamos? Não, é claro que não. Ainda assim,
somos obrigados a ouvir falar deles durante semanas, até que, sei lá, façam um auê