onde lhe emprestaram bloquinho e esferográfica. Um minuto depois, tornou a
sentar ao lado de Lagerkvist, que tinha fechado os olhos. Ele os manteve fechados
quando continuou:
- Já foi pegar?
- Já – respondeu Eva, e foi anotando o mais depressa que conseguia enquanto
Lagerkvist lhe passava sua experiência, explicando como deveria se aproximar
lentamente da presa, vindo da periferia da pessoa, tendo antes falado com os
antigos vizinhos, com os ex-colegas de escola, com os ex-colegas de trabalho, depois
com as ex-mulheres ou namoradas, tudo do jeito mais cauteloso possível. Ao
contrário do que muito jornalista fazia hoje em dia, Eva não deveria nunca apelar
para detetives particulares. - É uma questão de musicalidade. Encare a presa como um instrumento que você
precisa aprender a tocar. Está entendendo o que quero dizer? - Estou.
- Do mesmo jeito que você não pode dar violão para alguém e dizer “Por favor,
aprenda a tocar no meu lugar”, também não pode pedir que outros façam o
trabalho investigativo por você. Muitas vezes, a pista mais insignificante vira a
brechinha por onde você vai entrar, uma coisa por cima da qual qualquer pessoa
teria passado por alto e que só você consegue ver o que significa porque, por
exemplo, falou na semana anterior com um ex-vizinho do homem.
A porta se abriu, e a enfermeira entrou com uma bandeja e um sorriso que
iluminou o quarto todo. - Café para a visita – disse, e pousou uma xícara diante dela. – E uma coisinha
para o nosso guloso. – Deixou na mesa um pratinho com alguns pedaços de
chocolate. – Como você está se sentindo, Jan? – ela perguntou, e recebeu um
grunhido como resposta. – Não vou mais incomodá-los. - Obrigada – disse Eva, e sorriu para a enfermeira.
A porta se fechou sem fazer ruído. Eva ouviu umas vozes que, fraquinhas, vinham