numa direção nova. Também tinha comprado roupas e uma bolsa para guardar as
coisas. Não se deixaria soçobrar; tratava-se de não perder mais nada – de, pelo
contrário, reerguer-se. Começaria por ali, no abrigo de mulheres. Eva era mulher e
precisava de abrigo. Assim, tocou a campainha do porteiro eletrônico até com certo
direito a fazê-lo, torcendo para que seu plano funcionasse. Tinha de funcionar. O
abrigo tinha de ser seu submarino, o lugar onde não conseguiriam achá-la.
- Recepção.
- Oi – disse Eva. – Posso entrar?
- É visita?
- Não, eu gostaria de ficar um tempo aqui.
- Um momento.
E se passou um momento, no máximo cinco segundos, até que abriu a porta uma
mulher alta e esbelta, na casa dos quarenta, com traços duros num rosto que de
resto era amável. - Entre – ela disse, e estendeu a mão para Eva. – Eu sou a Liv. Sou a diretora. Ou
intendente, se você preferir, mas acho meio antiquado. A sua bagagem é só isso? –
Olhou para a bolsa de Eva. - É.
Entraram num pequeno saguão, com caixas de frutas, enlatados e conservas
amontoadas até o teto. O lugar cheirava a maçã. - Temos um acordo com os supermercados para que nos abasteçam de comida.
Sabe como é, coisas que não podem mais vender porque a validade está no fim.
Vamos por aqui – disse Liv, e abriu outra porta.
Eva a seguiu por um corredor estreito, sem carpete e com portas dos dois lados,
muito perto umas das outras, como num alojamento universitário. Uma moça
árabe de pouco mais de vinte anos, levando bebê no colo, cruzou com elas. - Oi, Bashira – disse Liv. – Como vão as coisas?
- Bem – respondeu a moça.