A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Acha que ele nos viu? – perguntou.

  • Acho, sim – respondeu Marcus. – Pelo menos a mim.

  • Que merda! Ele disse alguma coisa?

  • Dei bom-dia.

  • E ele?

  • Deu bom-dia também. Depois chamei o cachorro.

  • Cachorro?

  • Sabe como é. Estou aqui, vestido como quem vai depois para o escritório. Fiz
    que tinha saído para levar o cachorro a passear no parque.

  • E acha que ele acreditou?

  • Não. Ainda mais quando acharem o corpo.

  • Então... o quê?

  • Nada de pânico. Vou atrás dele. Você volta.

  • Você está pensando em fazer o quê?

  • Vou pensar em alguma coisa.
    David balançou negativamente a cabeça e disse:

  • É só um velho.

  • Exatamente. Por isso não tem muita importância. Já viveu a vida.
    David tornou a suspirar. Marcus olhou para ele. David estava afastado do campo
    de batalha havia tempo demais. Cedo ou tarde, aquilo acontecia a todos os
    soldados. Se a gente fica tempo demais longe do campo de batalha, tem cada vez
    mais dificuldade para aceitar a ideia de violência. “Porque a violência é uma coisa
    que requer manutenção”, pensou Marcus. Como tudo mais na vida – a forma física,
    o amor, a casa, as vias públicas. Era preciso cuidar de tudo. E a violência é uma
    condição fundamental do ser humano, isso é fato; todos os que tentam se
    convencer do contrário o fazem porque pretendem viver num mundo imaginário.
    Portanto, se a gente não cultiva a violência, cedo ou tarde ela vai perecer. É simples
    assim. Os espanhóis são os únicos europeus que sabem disso; é por essa razão que

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