Contentes ou descontentes? Trabalhavam muito ou pouco? Quem decidia a
jornada de trabalho deles? Quem eles frequentavam?
Como andavam suas finanças? O príncipe herdeiro tinha conta normal no
Danske Bank? Quem decidia o que ele devia vestir?
Eva atravessou a rua e parou numa banca de jornal. Ficou um instante olhando
para uma capa da revista Billed-Bladet em que a princesa consorte esboçava seu
sorriso bonito e um pouco frio. “Resumindo”, concluiu Eva, “a gente acha que sabe
muita coisa sobre eles; de fato, as revistas nos fazem pensar que sabemos tudo. Mas
nada está mais longe da verdade: não sabemos coisa nenhuma da realeza. Prova
disso são os boatos que sempre correm sobre ela. O boato nasce justamente quando
falta transparência. Quando ninguém, ou bem pouca gente, sabe realmente alguma
coisa.” Deixando de lado por um instante as imagens à Disney dos vestidos e
penteados que saíam nas revistas, concluía-se que a Casa Real era território
inexplorado; que o público em geral conhecia a superfície de Marte melhor do que
sabia o que acontecia com a realeza. E tinha sido a esse território inexplorado, com
Amalienborg como centro absoluto, que Brix chegou na noite anterior ao dia em
que morreu. Era ali que ele tinha passado suas últimas horas. O que tinha
acontecido aquela noite nos palácios? Quem tinha estado presente? Eva depois
pensou: “Por que não considerar a Casa Real uma espécie de Vaticano
dinamarquês? Um Estado dentro do Estado”. A Casa Real e o Vaticano se
equiparavam em tudo – o verniz de pompa e circunstância, a história, a escassez de
informações.
“O ser humano está a caminho de se tornar supérfluo”, pensou Eva ao entrar na
biblioteca pública do Islands Brygge, o Cais da Islândia, no distrito de Amager. Aos
domingos, sistema de autoatendimento, sem nenhum bibliotecário à vista. E com
quase nenhum público. Cumprimentou um senhor de cabelos brancos que estava