O homem vistoriou Eva de um jeito que a mulher dele não teria aprovado.
- Posso perguntar uma coisa?
- Manda ver.
- Christian Brix?
O homem deixou o pano molhado em cima do capô e assentiu. - É, eu vi na TV.
- Você não o conhecia?
- Nós nos cumprimentamos uma vez, e foi só. Faz pouco tempo que mudei para
cá. - Você não viu nada fora do normal?
- Você está falando do quê?
- De alguma coisa que tenha acontecido na casa. Algum barulho, alguma zoeira.
Esse tipo de coisa. - E por que você está perguntando?
- Não viu nada? Nem ouviu?
- Você é jornalista?
- Sou.
Um breve instante de desconfiança no olhar dele. “Ossos do ofício”, pensou Eva.
“Mereço adicional de insalubridade.” - Não, nada – disse o homem. – Acho que ele tinha acabado de se divorciar.
Por um momento, pareceu envergonhado, como se estivesse consciente de que
aquilo não era mais que fofoca. - OK, então – disse Eva, e sorriu. – Até logo.
Afastou-se um pouco e contemplou rapidamente a casa. Não sabia grande coisa
sobre o distrito de Kartoffelrækkerne. Só o óbvio: era para gente de boa renda,
gente que escolhia morar no centro em vez de mudar para a zona norte da cidade.
Estava perto do quê? Do aeroporto? Relativamente. Dos palácios de Amalienborg?
Percebeu que tinha acabado com a capacidade de concentração do vizinho. Ele